O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou nesta sexta-feira, 17, que a instituição projeta um déficit em conta corrente de US$ 1,3 bilhão em fevereiro. Em janeiro, conforme os dados divulgados mais cedo, o déficit ficou em US$ 5,085 bilhões.

“Observamos crescimento moderado do déficit de transações correntes”, afirmou Maciel, em referência ao resultado de janeiro deste ano ante janeiro de 2016, quando o resultado foi negativo em US$ 4,817 bilhões. “O resultado de janeiro está em linha com cenário que delineamos para este ano, de déficit de US$ 28 bilhões. O primeiro resultado do ano ratifica estimativas do Relatório Trimestral de Inflação”, acrescentou.

Maciel chamou atenção ainda para os “ganhos significativos” na balança comercial em janeiro, de US$ 2,504 bilhões. “Na exportação, tivemos reação importante, como no caso de produtos metálicos e açúcar. Importações também subiram em janeiro, o que é uma novidade”, comentou.

Em função da crise, as importações vinham apresentando recuos nas comparações interanuais, mas em janeiro deste ano elas subiram. Foram US$ 12,357 bilhões no mês passado, ante US$ 10,488 bilhões ante janeiro de 2016. “Na parte de serviços, tivemos déficit maior em janeiro deste ano que em janeiro de 2015”, citou Maciel.

Conta de viagens

O real mais forte e o aumento da confiança dos consumidores têm levado cada vez mais brasileiros a viajarem para o exterior, segundo avaliação do chefe do Departamento Econômico do Banco Central. Com esse fenômeno, o déficit em viagens em janeiro saltou 381% na comparação com 2016. Em fevereiro, a tendência continua e dados preliminares indicam que o saldo negativo cresce a um ritmo 95% ante o ano passado.

Até o dia 15, a conta de viagens em fevereiro registram saldo negativo de US$ 488 milhões, resultado de gastos de brasileiros no exterior de US$ 796 milhões e receita obtida com estrangeiros no País de US$ 309 milhões.

“O brasileiro realmente está viajando mais no início deste ano. As principais razões são o custo, o que reflete a taxa de câmbio, e a reação da confiança do consumidor”, explicou Maciel ao apresentar os dados de janeiro das contas externas.

No câmbio, o grande destaque é a valorização do real. No primeiro mês de 2016, o dólar médio estava em R$ 4,05. Em 2017, a média caiu para R$ 3,20. Isso fez com que as despesas no exterior, quando convertidas para reais, ficassem 20% mais baixas que há um ano. O chefe do departamento do BC diz que os indicadores de confiança mostram melhora do sentimento com maior otimismo com o futuro. “Essa é uma variável importante para gastar com viagens”.

Transportes

Maciel também chamou a atenção para o aumento do déficit da conta de transportes, que saltou de US$ 174 milhões em janeiro de 2016 para US$ 436 milhões no mesmo mês de 2017 – alta de 150%. “Isso está em conformidade com a ampliação da corrente de comércio exterior. Tanto importações como exportações cresceram e isso repercute nos gastos com fretes”, disse.

Lucros e dividendos

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central informou também que a saída de lucros e dividendos de empresas multinacionais somou US$ 469 milhões em fevereiro, conforme dados preliminares até o dia 15. Nesse mesmo período, o gasto com o pagamento de juros de dívidas em moeda estrangeira somou US$ 389 milhões.

Ao apresentar os dados preliminares de fevereiro, Maciel destacou o aumento da saída de lucros e dividendos. Essas remessas aumentaram 177% no mês de janeiro na comparação com igual mês de 2016, para US$ 870 milhões. “Em janeiro, vemos uma primeira reação do indicador após a queda de 7,5% no ano passado gerada pela menor rentabilidade das empesas em um ambiente de recessão”, disse.

O representante do BC nota que, além do lucro, outra variável importante para determinar o momento em que multinacionais remetem valores ao exterior é a taxa de câmbio. “A variação da taxa pode significar custo menor ou maior para a remessa”, disse.

Investidores estrangeiros

Dados preliminares do Banco Central mostram que o Brasil recebeu US$ 867 milhões de investidores estrangeiros para a compra de ações brasileiras durante os 15 primeiros dias de fevereiro. Para Maciel, o fluxo positivo de recursos reflete o bom desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo e a retomada das ofertas iniciais de ações, os chamados IPOs.

Maciel também divulgou a parcial do fluxo para a negociação de títulos de dívida. Em fevereiro, o mercado de renda fixa registrou saída de US$ 800 milhões, conforme dados até o dia 15. O chefe do departamento do BC nota que em 2016 houve expressiva saída de recursos em papéis e títulos domésticos pela perda do grau de investimento, a conjuntura do ano passado, eventos não econômicos, além da realização de lucros.

“Em 2017, as primeiras observações mostram um quadro um pouco diferente. Tivemos redução importante nessas saídas e até ingresso moderados em janeiro”, disse, ao comentar o ingresso de US$ 502 milhões no mês passado. “Ainda não significa uma tendência até porque fevereiro há nova saída, mas é importante o sinal”, completou.

Taxa de rolagem

Após a taxa de renovação dos créditos externos superior a 100% em janeiro, a taxa de rolagem recua em fevereiro. Dados preliminares apresentados por Maciel mostram que o indicador está em 53% na parcial do mês até o dia 15.

Segundo Maciel, a taxa de rolagem das operações com empréstimos diretos está em 56% no dado preliminar de fevereiro, enquanto o indicador das operações com títulos está em 20% no mesmo período.