O Banco Central do Chile reduziu sua estimativa de crescimento para este ano, em 1%, nesta quinta-feira (5), revendo o cálculo anterior, devido ao impacto da crise social.

Em um novo Informe de Política Monetária (Ipom), o BC estimou uma queda anual de 2,5% no quarto trimestre do ano, levando à revisão do crescimento em 2019 para 1%. Esse índice é consideravelmente menor do que previsto em setembro (2,25%-2,5%).

“O mau desempenho no último trimestre de 2019 traz um baixo nível de partida para a economia em 2020”, a qual deve crescer em uma faixa que vai de 0,5% a 1,5%.

Embora se considere que, de trimestre em trimestre, a economia voltará a crescer em 2020, sua taxa de variação anual será novamente negativa no primeiro trimestre do próximo ano. Este quadro configuraria um cenário de recessão técnica, com dois trimestres sucessivos de desempenho negativo.

Para 2021, contudo, o BC espera “uma recuperação do crescimento como produto de uma gradual recuperação dos principais componentes do gasto e da produção”, com uma expansão no espectro de 2,5% a 3,5%.

Nesse sentido, estima-se que, “até o final de 2021, o nível do PIB será cerca de 4,5% inferior ao que se teria alcançado sem essas disrupções”.

“Este Ipom é, sem dúvida, o más difícil desde que se implementou o marco de metas de inflação no Chile. Difícil em sua preparação, difícil pelas dimensões da incerteza e difícil em sua mensagem”, reconheceu o presidente do BC, Mario Marcel, ao apresentar o relatório ao Congresso.

“A magnitude do impacto da crise social é comparável com alguns dos maiores choques recebidos no passado pela economia chilena. Amortizar este impacto envolverá recorrer a uma grande parte da margem e da experiência acumuladas pelas autoridades econômicas ao longo dos anos”, acrescentou o economista.

O documento aponta ainda uma rápida deterioração do mercado de trabalho, com uma taxa de desemprego que deve passar de 10% no início de 2020. A taxa de investimento também se corrigiu para baixo para 2020, projetando-se uma queda de 4% anual.

“As perspectivas apresentadas pelo Banco Central estão alinhadas com as nossas, embora mais pessimistas”, afirmou o ministro da Fazenda, Ignacio Briones.

– Crise social é necessária, diz maioria

Os protestos no Chile explodiram em 18 de outubro, deixando 23 mortos e milhares de feridos até agora, em meio a multitudinárias manifestações, incêndios, saques e ataques a lojas.

Como consequência de quase duas semanas de paralisação, a atividade econômica em outubro caiu 3,4%. Este é seu pior registro em dez anos.

De acordo com a pesquisa “Mobilização 2019”, publicada pela Ipsos nesta quinta, 68% dos chilenos consideram que a crise social é necessária para “gerar mudanças no país”. Quase metade (48%) afirma que “os protestos não devem acabar”.

Ainda segundo os entrevistados, desde o início da crise, seu maior medo são os saques e o vandalismo (53%), seguido, muito de perto, pelo desabastecimento (52%).

A presença de militares nas ruas nos primeiros nove dias de convulsão social – quando o governo decretou estado de emergência – gerou temores em 45% dos chilenos ouvidos pela Ipsos.

Para 51% dos entrevistados, para superar a crise, o governo deve fazer uma reforma da Previdência, enquanto 38% defenderam o aumento do salário mínimo, e 28%, uma reforma na Saúde.

A sondagem foi realizada on-line com cerca de mil entrevistados, em nível nacional, no período de 22 a 26 de novembro.