Mercado é o que não falta. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, metade da população masculina acima dos 18 anos sofre de algum tipo de disfunção erétil ? mas uma parcela ainda modesta deste universo reconhece o problema e recorre aos tratamentos. Até aqui, a Pfizer reinava absoluta no segmento com o fenômeno Viagra, a pílula azul que forra os cofres da gigante americana com receitas acima de US$ 1,3 bilhão ao ano. Só que agora, oficialmente, outros concorrentes entraram na arena. Na semana passada, a Bayer, em conjunto com a Glaxo SmithKline, apresentou a sua pílula laranja da felicidade: o Levitra. O medicamento, produzido na Alemanha, consumiu 10 anos de pesquisas e investimentos de cerca de US$ 800 milhões. Estréia em março no mercado europeu. A estimativa da Bayer é que todo esse esforço se reverta em  vendas anuais de mais de um bilhão de euros. Por aqui, o Levitra deve desembarcar em julho. ?Em três anos, o produto terá 20% do mercado brasileiro?, garante Sérgio Oliveira, presidente  da área de saúde da Bayer. Hoje, o segmento responde por
vendas de R$ 180 milhões no Brasil.

?Era um movimento esperado. Mas acredito que mais que um medicamento, o Viagra virou sinônimo de mercado. Vai ser difícil vencê-lo?, afirma César Pretti, presidente da Pfizer do Brasil. Do outro lado, a concorrente se apressa em mostrar as vantagens de seu produto. Vem aí um bombardeio de marketing da Bayer para provar que o Levitra tem menos efeitos colaterais que o rival azul e que seu efeito de ereção é mais prolongado. ?A Pfizer desenvolveu um vaso dilatador e acabou encontrando uma mina de ouro. Nós criamos um remédio específico para disfunção erétil?, alfineta Pierre De Tours, diretor da área de saúde humana da Bayer. Além do esforço de marketing, a companhia vai contar com um forte aliado na comercialização do Levitra. A equipe de vendas da Glaxo também entrará em campo e, em dose dupla, as empresas pretendem não deixar faltar o ?elixir? laranja em nenhum ponto-de-venda do planeta. ?O Levitra será uma nova aspirina no portfólio da Bayer?, garante De Tours.

Na tarde do mesmo dia em que a Bayer anunciava do outro lado do Atlântico o lançamento oficial do Levitra, a Pfizer sofria mais um golpe dentro de casa. A também norte-americana Eli Lilly exibia ao mercado o Cialis, a sua versão para o tratamento de disfunção erétil. A Pfizer pode se preparar. A Eli Lilly simplesmente quer transformar o Cialis em um dos mais importantes produtos da história da companhia. Basta dizer que sua principal função será igualar, no balanço da companhia, o feito de outra importante droga: o Zyprexa, para esquizofrenia, que vende US$ 2 bilhões ao ano. Para criar o Cialis, o laboratório americano se associou à Icos Corporation, empresa de biotecnologia cujo acionista majoritário é ninguém menos que Bill Gates, o dono da Microsoft. Juntas, as companhias investiram US$ 500 milhões e desenvolveram um núcleo molecular a partir do citrato de sildenafil. Traduzindo em bom português: a Eli Lilly, assim como a Bayer, garante que sua fórmula proporciona ação mais ampla do que o Viagra. Enquanto o Viagra atua por 4 horas o Cialis funciona por 36 horas (desde que o usuário seja estimulado sexualmente, diga-se) e também não apresenta efeitos como visões azuladas. Quem assegura isto é Fernando Martins, gerente médico da Eli Lilly: ?O Viagra foi uma revolução. O Cialis, uma evolução?.

Apesar das ameaças a seu reinado azul a Pfizer vive hoje uma situação muito mais confortável do que as rivais. A Bayer passa por uma longa reestruturação e quer fortalecer sua divisão farmacêutica se concentrando nos chamados blockbusters (medicamentos com vendas de mais de US$ 1 bilhão). Hoje, a empresa está numa morna 17ª colocação no ranking mundial dos laboratórios. ?A Bayer precisa acordar. Nos últimos anos ficamos para trás dos gigantes que nasceram de fusões?, afirma Oliveira, o presidente da área de saúde da companhia. O mercado especula até uma possível negociação da divisão farmacêutica da Bayer com a Glaxo. Um dos gigantes a que se refere Oliveira é justamente a Pfizer. Recentemente, a empresa adquiriu a Pharmacia e se transformou na líder mundial. O Viagra, portanto, é só mais um grande produto da empresa. Há pouco tempo, ela bateu recorde histórico de venda com o Lipitor, droga cardiovascular que rende US$ 10 bilhões ao ano.