Não acontecia algo parecido desde 2016. É a primeira vez, de lá para cá, que a economia brasileira pode cravar um desempenho tão decepcionante. As estimativas do PIB mostram uma possibilidade concreta de recuo nesse primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado. Objetivamente, uma retração entre 0,1% e 0,2% no período passou a figurar nas projeções de instituições financeiras como Bradesco, Itaú/Unibanco e Banco Fator. Pode parecer pequena, mas ela representa extraordinário retrocesso na curva de recuperação que acontecia desde o período recessivo da deposta Dilma.

A amparar os dados estão sinais como o da queda no consumo de energia, no nível de confiança da população e no uso da capacidade instalada do parque fabril. Em outras palavras, na computação desses indicadores, estamos indo bem mal, muito aquém do esperado, com chances de um resultado ainda mais magro no ano que o 1,1% registrado em 2018, quando as eleições paralisaram a votação de projetos do governo Temer e comprometeram a retomada. O que deu errado? Certamente os delírios de gestão, a falta de um plano claro e os equívocos de decisão do presidente – como, a mais recente, de segurar o reajuste do preço do diesel – colaboraram para o cenário negativo. Não há dúvida: a inabilidade política é a maior inimiga de uma economia em crescimento consistente.

Oportunidades são perdidas e os ânimos dos empreendedores, externos e internos, azedam. O presidente Bolsonaro adicionou um grau de incertezas inesperado ainda nos primeiros 100 dias de mandato. Em frases e atos ele acabou por levantar diversos questionamentos sobre a sua competência para o desafio da estabilidade. A descrença é retratada na Bolsa de Valores. Desde o início do ano, o investidor vem trocando papéis de empresas de consumo interno pelos daquelas voltadas para a exportação. O câmbio de títulos tem motivos óbvios: eles acreditam que as chances de lucro estão, cada vez mais, fora daqui. Uma perspectiva bem diferente daquela preconizada por analistas logo após a posse do novo governo. À época, havia grande aposta na aceleração do consumo. O aumento nas taxas de desemprego mês a mês minou a hipótese.

O desânimo tomou conta. Não é difícil encontrar quem agora acredite em retornos pífios das medidas mais relevantes como a da reforma da Previdência. Na verdade, a maioria já acredita que o projeto não conseguirá angariar, como pretendido pela equipe do ministro Guedes, uma economia da ordem de R$ 1 trilhão em 10 anos. Ela ficará na casa dos R$ 600 milhões, na visão dos mais pessimistas, o que pode desencadear uma onda de frustração perigosa. A clara desarticulação do Executivo vem lhe impingindo derrotas sucessivas nos projetos votados no Parlamento e, junto com a popularidade em queda, ele pode ficar rapidamente inviabilizado se insistir nessa toada.

(Nota publicada na Edição 1117 da Revista Dinheiro)