CAMBRIDGE, Reino Unido (Reuters) – Na corrida para eletrificação de frotas, as montadoras se concentraram em elevar a autonomia dos veículos como uma estratégia para aliviar preocupações de consumidores sobre a infraestrutura de carregamento, mas os fabricantes de baterias já estão trabalhando em baterias menores, mais duráveis e mais baratas, que também carregam mais rapidamente.

Enquanto as montadoras hoje correm atrás da líder do mercado Tesla, buscando criar veículos que possam rodar 482 quilômetros com um carregamento completo, as startups de baterias esperam que o alcance importe menos à medida que os postos para recarregamento se tornam onipresentes.

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Na busca por baterias menores que carreguem com extrema rapidez, startups estão experimentando materiais como carboneto de silício, tungstênio e nióbio.

A bateria é a parte mais cara de um veículo elétrico, então um carregamento verdadeiramente rápido, juntamente com disponibilidade de postos de recarga – a falta de infraestrutura de carregamento é vista atualmente como um retardamento para adoção mais ampla de veículos elétricos – permitiria que as montadoras construíssem veículos com baterias menores a preços mais acessíveis. Ou seja, lucrar vendendo mais veículos para um público mais amplo.

“Para uma adoção convencional (dos veículos elétricos) mais sensível ao custo, você precisa de baterias menores… mas com a mesma experiência atual (com carros movidos a combustível fóssil), onde você pode abastecer em 5 minutos”, disse Sai Shivareddy, presidente-executivo da Nyobolt, uma startup que desenvolve materiais baseados em ânodo de óxido de nióbio para baterias recarregáveis em minutos.

Startups ocidentais como as britânicas Nyobolt e Echion Technologies ou a norte-americana Group14 Technologies, estão trabalhando em materiais de eletrodos para trazer baterias de carregamento super rápido ao mercado.

De acordo com a plataforma de dados de startups PitchBook, os investimentos em tecnologia de baterias para veículos elétricos aumentaram mais de seis vezes, para 9,4 bilhões de dólares em 2021, de 1,5 bilhão de dólares em 2020, com as montadoras focadas no futuro.

Diminuir o tamanho também pode aliviar os gargalos iminentes do material da bateria, à medida que a demanda de veículos elétricos aumenta, e ao mesmo tempo diminuir a necessidade de cobalto e níquel, mercados em que a China é dominante no refino e processamento.

VEÍCULOS ELÉTRICOS MAIS ACESSÍVEIS

O carregamento rápido hoje é limitado pela capacidade das baterias dos veículos elétricos de absorver energia rapidamente. O carregamento rápido pode encurtar a vida útil das baterias ou superaquecê-las, então a maioria dos veículos limita a rapidez de carregamento para protegê-las.

O nióbio é um metal estável frequentemente usado para fortalecer o aço – os maiores depósitos do mundo estão no Brasil e no Canadá. Utilizado em ânodos ou cátodos, startups como Nyobolt e Echion dizem que o nióbio pode lidar com carregamento super rápido, enquanto dura muitos anos a mais do que as baterias atuais.

A mineradora brasileira CBMM domina a produção de nióbio e investiu na Echion e outras startups, bem como está testando o nióbio com outras empresas, incluindo a companhia de materiais de bateria Nano One, a Toshiba e a Volkswagen Caminhões e Ônibus, uma subsidiária brasileira da Traton, pertencente à Volkswagen.

Rogério Marques Ribas, chefe do programa de baterias da CBMM, disse que embora a densidade de energia do nióbio possa ser até 20% menor do que algumas baterias contemporâneas, “podemos trazer talvez três a dez vezes mais vida útil e mais segurança ao carregar em minutos”.

“As matérias-primas serão um gargalo para as baterias”, acrescentou Ribas. “No futuro próximo as pessoas vão perguntar, por que ter uma bateria grande?”

‘O MERCADO DECIDE’

O nióbio não é o único material que as startups estão explorando. A Group14 Technologies fabrica um material de ânodo de carboneto de silício que permite que as baterias de íons de lítio retenham até 50% mais energia. A empresa levantou 400 milhões de dólares com investidores em maio.

A startup norte-americana Our Next Energy (ONE) desenvolveu a bateria de “química dupla” Gemini, composta por uma bateria de tração padrão a base de fosfato de lítio ferro e uma segunda bateria “extensora de alcance” com produtos químicos mais avançados e caros, fornecendo opções de baixa, média e alta autonomia.

“Em última análise, o mercado decide o nível certo de autonomia”, disse o presidente-executivo da empresa, Mujeeb Ijaz.

Isobel Sheldon, diretora de estratégia da empresa britânica de baterias Britishvolt, disse que, à medida que os proprietários de veículos elétricos perceberem que estão pagando mais do que precisam, o mercado exigirá menos autonomia.

“À medida que o mercado amadurece, as pessoas vão começar a perguntar por que estou pagando milhares… por uma bateria que nunca vou usar”, disse ela. “A maioria dos carros é usadoé para ir às lojas, ver os amigos ou deixar as crianças na escola, não para dirigir até Mônaco.”