Desde os primórdios do internet-banking, na década passada, os clientes das instituições financeiras fazem as vezes de bancários diante de seus computadores. Pagam contas, fazem docs, consultam extratos e executam outras operações que costumavam resolver no guichê dos bancos. Aos poucos, porém, com o avanço da tecnologia e a sofisticação do mercado financeiro, criou-se uma legião de investidores que atuam como banqueiros dentro de suas casas. Eles compram e vendem ações, entram e saem de fundos, negociam títulos públicos e, eventualmente, especulam com cabeças de gado em sites de leilão. A partir de novembro, terão até os derivativos da Bolsa de Mercadorias & Futuros ao alcance de um click. Detalhe: isto não é mais passatempo de milionários excêntricos. No mês passado, a participação do investidor pessoa física na Bolsa de Valores de São Paulo atingiu, pela primeira vez na história, a marca dos 30% do volume negociado. Como a movimentação da Bovespa voltou ao patamar de R$ 1 bilhão por dia, isto significa que esses investidores individuais compram e vendem mais de R$ 300 milhões em ações a cada pregão. Com um protótipo de banqueiro em cada casa, a competição entre os fundos de investimento nunca foi tão acirrada e esta indústria ? que aproxima-se da casa dos R$ 550 bilhões ? nunca conviveu com aplicadores tão bem informados e tão pouco fiéis. ?Essa explosão de investimentos é um sinal de maturidade da indústria e de que o investidor se sente mais seguro ao aplicar?, avalia o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Administradora de Recursos.

O investidor João Antonio Carvalho, de São Paulo, é um veterano entre os aprendizes de banqueiro. Há quatro anos, ele passa boa parte de seu dia administrando sua ?tesouraria?. O hábito de aplicar dinheiro em fundos de renda fixa evoluiu para transações na Bolsa ? ?perdi muito dinheiro até desenvolver uma técnica própria de investimento?, admite ? e aventuras no mercado de futuros. Carvalho corresponde ao estereótipo do investidor solitário, plugado o dia todo no mercado financeiro, com o telefone numa mão e o mouse na outra. Mas nem todo financista doméstico é ermitão. Só neste ano, já foram criados 200 grupos específicos para aplicação em ações, e o total de clubes do gênero no País beira a marca dos mil. Seus sócios são gente comum, como o engenheiro civil Reginaldo Furlan, que desde o mês passado reúne um grupo de amigos semanalmente em sua casa para definir estratégias de aplicação. ?Estamos aprendendo dia a dia como investir?, diz o animado principiante.

CARAS NOVAS NO PREGÃO

950

30%

Total de clubes de investimento

Participação de pessoas físicas na Bolsa