O ex-banqueiro Júlio Bozano está vivendo seu inferno astral. Depois de levar uma multa de R$ 1 bilhão da Receita Federal e ser acusado de lavagem de dinheiro, ele foi atropelado na reta final da eleição para a presidência do Jockey Club do Brasil, no Rio de Janeiro. O azarão Luiz Alfredo Taunay, um advogado que é bisneto do Visconde de Taunay, bateu-o por 1.399 votos contra 1.306. O banqueiro saiu amuado do comitê de apuração na noite de quarta-feira, 31, enquanto Taunay era ovacionado pela alta sociedade carioca ? e o antigo presidente, o também banqueiro José Luiz Fragoso Pires, era vaiado.

A campanha do Jockey não se parece em nada com as eleições amadorísticas que acontecem em grêmios estudantis ou clubes de bairro. A disputa pela instituição que arrecadou R$ 155 milhões em prêmios no ano passado envolveu uma máquina de fazer inveja a qualquer campanha política ? cada chapa gastou cerca de R$ 300 mil. A força de elite de Bozano era comandada pelo publicitário Luiz Macedo, que foi um dos ?M? da MPM. Foi contratada a agência Salles D?Arcy, a mesma que renovou a marca do Bradesco. No total, havia 40 pessoas trabalhando em sua campanha. Mas o próprio banqueiro se esforçou e tirou dinheiro do bolso. Bozano assinou de próprio punho mais de cinco mil cartas enviadas para os sócios. Mandou confeccionar cinco mil camisetas, adesivos e buttons com o slogan ?Vote Bozano, vote pelo clube? e ?Amigos, amigos, Jockey à parte?. Para se garantir, promoveu 13 coquetéis na hípica, na tentativa de atrair novos simpatizantes para sua chapa.

O estrategista-chefe do advogado Taunay foi o publicitário Clementino Fraga Neto, responsável pela campanha que elegeu Marcelo Alencar prefeito do Rio em 1988. ?Sabíamos que havia chance de ganhar?, diz Fraga Neto. Mas o jogo foi pesado. Numa das reuniões dos correligionários, por exemplo, descobriu-se um informante de Bozano infiltrado, passando informações para o banqueiro. Posto na parede pelos partidários de Taunay, o espião desastrado ficou sem graça e não apareceu mais. As duas chapas sabiam que a disputa seria dura. Bozano acompanhava a situação através de pesquisas encomendadas ao Ibope. Em setembro de 1999, ele tinha apoio de praticamente dois terços dos eleitores. Três meses depois, os candidatos entraram num empate técnico. Em março, porém, Bozano conseguiu uma ligeira vantagem. Contava com uma vitória por 5% de diferença.

O voto não era obrigatório, mas 2.738 dos 4.700 sócios, incluindo empresários e políticos com agendas atribuladas, fizeram questão de depositar a cédula na urna. Os ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, votou em Bozano ?pelo continuísmo?. A ex-diretora de privatizações do BNDES, Elena Landau, apresentou-se como vice na chapa de Taunay. Desfilaram pela sede social do Jockey vips como Lily Marinho, mulher de Roberto Marinho, Antonio Carlos Lemgruber, ex-presidente do Banco Central, Pio Borges, ex-presidente do BNDES e até o apresentador Raul Gil. Foi um desfile de bolsas Louis Vuitton, acessórios Chanel e sapatos de couro Prada. A chegada de tantos Mercedes, BMWs, Audis e Cherokees provocou tumulto na sede do Jockey, no centro do Rio. A high society, servida por três garçons, consumiu 1.900 cafezinhos durante a votação e a apuração.

Ao fim da contagem, José Carlos Fragoso Pires, o presidente que passava o bastão ? e apoiava Bozano ?, perdeu a esportiva. No estilo ?não importa competir, importa ganhar?, empossou o sucessor sob um discurso apocalíptico, alertando: ?Levei oito anos para eu reerguer o Jockey. Um trabalho que em apenas dois meses pode ser completamente destruído?. Recebeu uma chuva de vaias como resposta. Julio Bozano limitou-se a cumprimentar o vencedor nos bastidores e sair discretamente.