A aguardada presença do governo brasileiro no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, não chegou a ser de todo ruim, mas poderia ter sido bem melhor. Ainda que tenha acertado na escolha dos temas para seu pronunciamento oficial, de exatos 6 minutos e 36 segundos, o presidente Jair Bolsonaro mostrou-se pouco preparado para apresentar aos investidores estrangeiros um Brasil mais promissor e confiável. Seu discurso reforçou as boas intenções de abrir a economia, conciliar desenvolvimento com preservação ambiental (incluindo a manutenção do acordo do clima de Paris) e criar um ambiente de negócios que coloque o País entre os 50 melhores do mundo no quesito. Se, por um lado, não houve nenhum desgaste provocado por essa fala, por outro, faltou a ela ambição.

Um presidente que prefere almoçar no bandejão de um supermercado a seguir o protocolo dos convescotes com autoridades (que tornam o fórum realmente útil na prática), precisa com urgência entender que o mundo está de olho em cada um de seus gestos — e não só nas palavras que profere. Cancelar uma entrevista coletiva, como fez na quarta-feira 23, é deixar uma mensagem de que há mais problemas nos bastidores do governo do que autoridade para “governar pelo exemplo”, como afirma Bolsonaro.

Todos querem ouvir um presidente disposto a “diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos”, como ele disse. Mas ninguém dá crédito a quem evita um compromisso minutos antes do horário agendado. Isso não ajuda em nada no desafio de tirar o País da vergonhosa posição que ocupa no principal ranking sobre a regulamentação do ambiente de negócios — o “Doing Business”, elaborado pelo Banco Mundial. Em 109º lugar , o Brasil fica atrás de países como Namíbia, Lesoto e Quirguistão. Em outro indicador do mesmo ranking, que mede a facilidade para a abertura de empresas, a posição brasileira é 140. Entre os países com mais obstáculos para conseguir um alvará de construção, o País ocupa o triste 175º lugar.

Diante dessa performance, um salto para o grupo dos 50 primeiros seria fantástico, deixando o Brasil à frente da Itália (51) e do México (54). Em 2012, o País ocupava a 48ª posição no ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Fundação Dom Cabral. Em 2016, havia caído para a 81ª. A brusca oscilação mostra o quanto qualquer sinal negativo enviado ao exterior é prejudicial. Por isso mesmo, em vez de evitar a imprensa internacional, o governo precisa aprender a aproveitar cada oportunidade e ocupar todos os espaços disponíveis para comunicar, de forma assertiva, que o Brasil merece receber investimentos. Afinal, ainda somos a oitava economia do mundo.

(Nota publicada na Edição 1105 da Revista Dinheiro)