Relatórios produzidos por bancos internacionais para clientes e investidores estrangeiros apontam um elevado grau de incerteza no quadro eleitoral brasileiro e a preocupação com a “estagnação” de presidenciáveis da centro-direita, classificados como “reformistas”. A seis meses das eleições, a pulverização de candidaturas também gera apreensão em relação à disputa presidencial, conforme os documentos das instituições financeiras.

Nos últimos dias, o próprio presidente Michel Temer – que se coloca como pré-candidato à reeleição – passou a admitir a união do chamado centro político em uma candidatura competitiva. Temer e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato tucano à Presidência, voltaram a se aproximar.

Nos relatórios dos bancos, divulgados nas últimas três semanas, há uma clara preferência por aqueles presidenciáveis considerados “reformistas”.

Em um vídeo distribuído para clientes, o economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Marcelo Carvalho, resume o momento político em três questões principais: para onde vão os votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado na Operação Lava Jato; se o deputado Jair Bolsonaro (PSL) atingiu, de fato, o “teto” de votos; e se Alckmin pode ainda decolar.

“Historicamente, é por volta de abril e maio que o eleitor do Sudeste começa a olhar mais de perto para a eleição. A gente está olhando se nas pesquisas o Alckmin começa a subir até meados de maio”, disse Carvalho. No relatório, a instituição ainda coloca o ex-prefeito João Doria como alternativa ao tucano na disputa presidencial.

No documento do banco americano JP Morgan, os analistas também demonstram preocupação com o fato de candidaturas de centro estarem estagnadas. “A baixa performance de todos os candidatos de centro reformistas reforça os desafios no nosso cenário de referências market friendly”, diz trecho do documento de seis páginas.

O estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, cita Alckmin e o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “À medida que o Alckmin e o Meirelles não decolam nas pesquisas, estão estagnados com intenções de voto de um dígito, aumentam-se as chances de que se eleja um governo reformista, mas com base fraca no Congresso.”

Na mesma linha, o relatório do Banco Nomura defende que o discurso pró-reforma deve vir acompanhado de um partido robusto, com estrutura, e cita Alckmin como o candidato que melhor encaixa nesse perfil. “O mercado também olha para a plataforma de mais longo prazo do candidato, a história dele, o que foi dito e o que ele vêm pensando ao longo dos anos”, disse o estrategista para América Latina da instituição, João Pedro Ribeiro.

Dúvidas

Já o banco de investimentos MUFG, em documento distribuído a clientes na quarta-feira passada, chama atenção para o resultado das pesquisas eleitorais. “Em um cenário sem o ex-presidente (Lula), pesquisas podem ser muito incertas, uma vez que o voto dessas pessoas pode colocar um candidato inesperado no segundo turno e mudar o resultado final apontado nos levantamentos. Em resumo, há um alto grau de incertezas nas eleições”, diz o texto.

O mais recente relatório do banco francês BNP Paribas é uma apresentação detalhada de 85 páginas, com uma foto na capa do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. A instituição trata o ex-ministro, potencial pré-candidato do PSB, como um “outsider” na corrida presidencial.

O BNP destacou que o ex-ministro tem a mais baixa das taxas de rejeição entre os principais candidatos. “As visões econômicas de Barbosa parecem moderadas – Brasil precisa de reformas e uma injeção de ‘capitalismo de verdade'”, diz o texto.

Para o JP Morgan, a proibição de financiamento empresarial de campanha fará com que não apenas partidos “concentrem seus esforços nas candidaturas que têm mais chances de ganhar, mas também serão necessárias alianças para a disputa presidencial”.

Quanto ao partido do presidente, o BNP diz que é “improvável” que tenha candidato, mas lhe atribui um papel fundamental na costura política. “(O MDB) Tem um papel central nas coligações, graças à sua influência no Senado, na Câmara e nos governos locais”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.