Os bancos credores da Americanas concordaram em rolar a dívida da companhia, para evitar que ela quebre e gere efeito cascata tanto no sistema financeiro quanto no varejo. Mas condicionam que a empresa faça uma capitalização rapidamente, que deve se dar por meio da emissão de ações, em uma oferta de alguns bilhões de reais.

Na visão do mercado, a exposição das instituições à companhia no futuro pode cair, com os bancos endurecendo condições para financiar a varejista à frente, diante da crise de confiança gerada pela descoberta de inconsistências contábeis de pelo menos de R$ 20 bilhões.

Agências de classificação de risco cortam notas de crédito da Americanas

Pessoas a par da negociação ouvidas pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, afirmaram que as instituições financeiras concordaram em rolar a dívida da Americanas. Os bancos foram consultados ao longo dos últimos dias sobre possibilidade – a empresa comunicou o problema ao mercado na tarde de quarta-feira. Um diretor de um banco credor falou que a instituição “deu um respiro” à Americanas. Outro banqueiro disse que a “sinalização positiva” está atrelada à “capitalização rápida de alguns bilhões”. Segundo esse banqueiro, a 3G, gestora que reúne o trio de sócios da Americanas, vai ter que participar para a oferta de ações sair.

Por seu porte, a Americanas é cliente de praticamente todos os grandes bancos, segundo operadores do setor. Por isso, não seria interessante deixá-la à míngua. Entretanto, executivos consideram que as condições de financiamento ficarão mais duras adiante, com instituições cobrando mais para assumir um risco também maior. Isso se refletiu ontem no mercado secundário de títulos de dívida da companhia, com um salto nas taxas cobradas e um tombo no valor de face.

No balanço de setembro do ano passado, a Americanas informou dívida bruta de R$ 19,3 bilhões, sendo que R$ 17,1 bilhões eram de longo prazo, ou seja, com vencimento em prazos acima de um ano. Desse total, R$ 15,6 bilhões estavam em empréstimos e financiamentos, segundo a companhia. O restante estava em debêntures.

Já o ex-presidente da varejista, Sergio Rial, disse em um vídeo de 11 minutos disponível no site da Americanas que a dívida bruta é de R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões, após crescer em 2022, sobretudo no terceiro e quarto trimestres. Ou seja, aparentemente bem maior que os dados do balanço mostram.

Linhas de crédito

Um dos grandes riscos nesse momento seria a interrupção da linha dos bancos para o financiamento dos fornecedores, sobretudo agora que as vendas estão crescendo, disse Rial no vídeo – nas primeiras duas semanas do ano, as vendas tiveram uma alta acima de 17%. “Espero que os bancos tenham postura de equilíbrio e permitam obviamente a gestão atual de encontrar um caminho que funcione para todos”, afirmou.

Impacto pequeno

Analistas do setor financeiro disseram acreditar que o impacto de um possível prejuízo com a Americanas seria pequeno para cada instituição. Sem revelar nomes, os bancos informam a exposição que possuem a seus maiores devedores, e na visão de profissionais, os dados mostram que o abalo seria contido.

O analista Marcelo Telles, do Credit Suisse, consultou as exposições das instituições a seus maiores devedores. Na média do setor, o crédito a cada grupo econômico representa cerca de R$ 1,9 bilhão, calculou, ou 1,6% do capital do setor. O banco considerou os devedores que ficam entre a 11.ª e a 20.ª posição nos balanços das instituições, e estima que a Americanas tenha a 26.ª maior dívida entre as empresas brasileiras.

Nesta sexta, 13, o Bradesco BBI calculou que os bancos mais expostos a varejistas são o Santander Brasil e o BTG Pactual, com cerca de 7% da carteira total de crédito, seguidos por Itaú e ABC Brasil, com 3%, e Banrisul e Banco do Brasil, com 2% cada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.