As medidas de restrição impostas pela pandemia estão longe de acabar. Todos estão convictos disso. No entanto, quando o assunto são as decisões econômicas e monetárias destinadas a mitigar os efeitos danosos dessas restrições, a certeza já não é tão grande. Prova disso é o comportamento dos juros futuros de longo prazo durante a segunda semana de 2021. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, as taxas longas, que servem de referência para os financiamentos de longo prazo e balizam o custo do dinheiro para a economia como um todo, mostram sinais de uma alta acentuada e rápida (observe o gráfico). Por aqui, a taxa dos contratos futuros mais longos, com vencimento em 2035, avançou de 4,4% para 5,1% ao ano em apenas dez dias. Nos Estados Unidos, os títulos referenciais de dez anos avançaram de 0,93% ao ano para 1,17% no mesmo período, chegando ao nível mais alto desde janeiro do ano passado.

O que justificou essa alta? Desde o início da pandemia, banqueiros centrais ao redor do mundo têm baixado juros, comprado títulos privados e injetado recursos no sistema para impedir que as rodas do sistema financeiro travem. Até o momento, essa inundação de liquidez provocou apenas algumas bolhas no mercado financeiro. No entanto, mesmo em sua linguagem cifrada, as lideranças dos bancos centrais vêm advertindo que essa folia tem hora para acabar, devido aos temores de que a alta dos preços dos ativos financeiros acabe reaquecendo os motores da inflação.

Por aqui, durante uma “live” organizada pela XP Investimentos na terça-feira (12), o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, disse que, caso ocorra uma “subida forte” das projeções e das expectativas de inflação, “é natural que você esteja mais próximo de discutir alta de juros”. Ao mesmo tempo, ele reforçou que o nível da Selic, atualmente em 2,00% ao ano, dependerá da conjuntura do momento.

INFLAÇÃO EM ALTA Roberto Campos Neto, do BC, terá de enfrentar um IPCA que pode subir além da meta. (Crédito:Pedro Ladeira)

Serra afirmou que, apesar de o cenário ainda estar longe da normalidade, a direção macroeconômica está melhor do que no auge da pandemia, especialmente quando se analisam o nível de atividade e os índices de inflação. O IPCA de 2020, divulgado pelo IBGE na terça-feira (12) fechou a 4,52%, acima do centro da meta de inflação, que era de 4%, e bastante acima do piso das projeções para o ano passado, que chegou a cair para 2,1% em setembro. Algo para a atenção de Roberto Campos Neto, presidente do BC e responsável pela condução da política monetária.

FEDERAL RESERVE As mesmas reticências começam a ser ouvidas em Washington. Diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começam a insinuar sobre a redução dos estímulos monetários ainda em 2021. Na primeira semana do ano, quatro dos 18 executivos de primeiro escalão discutiram a possibilidade de reduzir as compras de títulos – atualmente em US$ 120 bilhões por mês – até o final do ano. Além de aumentar a turbulência dos mercados de ações, as indicações de Jerome Powell, presidente do Fed, de que a festa teria data para acabar, elevaram os juros. As taxas dos títulos do Tesouro dos EUA de dez anos chegaram ao maior nível em mais de três anos. Em breve, Powell deverá fazer seu primeiro discurso do ano, o que pode acrescentar uma dose adicional de volatilidade às taxas de juros. Alguns investidores temem uma repetição do que ocorreu em 2013. Naquela época, o então presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou de que as autoridades avaliavam desacelerar as compras de ativos, o que provocou muita volatilidade no mercado financeiro, com uma elevação acentuada dos juros de longo prazo e fortes quedas nas ações.