Do alto do oitavo andar do prédio do Banco Santos, na marginal Pinheiros, em São Paulo, Edemar Cid Ferreira acompanha as obras de sua mansão, localizada no outro lado do rio, no bairro do Morumbi. A residência vai abrigar sua família e sua coleção de arte, uma das mais importantes do País. A construção da nova casa é apenas mais um projeto na vida deste santista. Em julho ele inaugura as operações de um banco de varejo voltado para clientes com renda mensal acima de R$ 4 mil. O novo banco terá escritórios em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília. ?Serão agências com muitos recursos de tecnologia e, sem dúvida, mais bonitas que as dos concorrentes?, afirma Ferreira. O banqueiro também aposta na oferta de serviços via telefone ou internet. ?Ninguém mais quer ir a banco?, completa. O forte mesmo será o relacionamento com os clientes. Isso sem contar os mimos. ?Quem gosta de arte terá arte, quem gosta de tênis terá tênis, quem gosta de música terá música?, resume Ferreira.

Amante das artes e das finanças, Ferreira é tão conhecido como banqueiro quanto como mecenas. A arte abre portas para os negócios. No ano passado, logo depois de organizar a mostra Os Guerreiros de Xian e os Tesouros da Cidade Proibida, a Procid, holding controladora do Banco Santos, abriu um escritório na China. O próximo empreendimento será na Índia. Ferreira foi ao país asiático e voltou de lá com um encontro de empresários agendado para novembro e uma exposição de arte indiana programada para março
de 2005. China e Índia são consideradas, junto com Brasil e Rússia,
as grandes promessas deste século. Até o ano que vem o Banco Santos também terá escritórios na Índia e na Rússia. Além do comércio exterior, essas representações irão prospectar mercados para a venda de tecnologia bancária desenvolvida pela instituição. ?Temos de buscar caminhos alternativos onde a concorrência
não está?, afirma Ferreira.

 

A ânsia de estar sempre à frente dos concorrentes rende alguns tropeços. Em 2002, o Santos perdeu R$ 71 milhões com a chamada marcação a mercado. Ferreira acabou fazendo um aumento de capital. No ano passado, a Fitch Atlantic Ratings rebaixou a nota de risco do banco em razão do aumento do volume de créditos duvidosos a receber. O banco, então, repassou créditos de R$ 278 milhões para outras empresas controladas por Ferreira. ?Na prática, houve uma nova injeção de capital?, diz Rafael Guedes, analista da Fitch. A operação foi considerada normal pela agência de risco Austin Asis, que manteve a nota A para o Santos. ?A cessão de crédito é algo muito comum no sistema bancário?, avalia Luis Santacreu, da Austin.

Com a blindagem, o Banco Santos registrou um lucro líquido de R$ 112 milhões no ano passado, chegando à sexta posição entre os maiores bancos nacionais de capital privado. Com R$ 6,1 bilhões em ativos, o banco tem caixa para bancar seus projetos rumo ao varejo e ao exterior. Resta saber se eles darão certo. ?A ida para a China é acertada, mas não há espaço para todo mundo no mercado bancário de alta renda?, avalia Antonio Bento de Mendonça Neto, sócio da consultoria francesa Solving International. Ferreira, contudo, não tem dúvida de que está no caminho certo. ?Os outros bancos são maiores e têm mais dinheiro?, compara o presidente do Santos. ?Somos menores, mais ágeis e, por isso, temos de sair na frente.?