Uma portaria divulgada sem pompa pelo Banco Central no último dia 4 deu partida a uma guerra surda dentro do governo. De um lado, no ataque, os Correios. Na trincheira oposta, o Banco do Brasil. As duas estatais estão batendo de frente por causa do banco postal, o projeto dos Correios de transformar suas agências nas cidades mais remotas do País em postos avançados do sistema financeiro. O BB, parceiro do projeto desde o início, sempre julgou ter exclusividade para implantar seus serviços nas lojas da empresa, o que levaria o banco a entrar sozinho em municípios que não dispõem de um endereço bancário sequer. Mas, com a publicação da portaria, essa posição foi posta em xeque. O problema é que a norma, editada para regular os serviços de ?bancos correspondentes? ? aqueles prestados em estabelecimentos como as casas lotéricas, para a Caixa, e as agências da antiga ECT ? liberou empresas como os Correios para assinar contrato com quantos bancos quisessem. Cortejada por instituições privadas como Itaú e Bradesco, a estatal já resolveu dizer não às pretensões de exclusividade do BB e avisou que seus postos estão abertos aos concorrentes da instituição.
A briga do BB é para cobrir todo o território nacional antes que seus concorrentes privados o façam. Dos 5.507 municípios brasileiros, 1.738 jamais tiveram um posto de serviço bancário. Mas todos têm pelo menos uma lojinha dos Correios. Vivem nesses cantões 4 milhões de brasileiros adultos, até agora excluídos do sistema financeiro. É essa população marginalizada pela geografia do País que os bancos querem capturar. O Banco do Brasil saiu na frente, ao assinar contrato em 30 de março com os Correios, e já abriu 36 postos, além de um piloto em Brasília. O contrato do banco com a estatal, de cinco anos, previa na primeira cláusula que os serviços oferecidos pelo BB não poderiam ser vendidos no mesmo local também por outro banco. A abertura de contas correntes e de poupança e a arrecadação de contas de consumo e de impostos já estão nas agências em funcionamento. A exclusividade, acreditava o banco, estava garantida.

O contrato em questão foi assinado quando os Correios estavam sob a presidência de Egydio Bianchi, alçado ao posto na gestão do então ministro Sérgio Motta. O atual presidente, Hassan Gebrin, nunca viu, no entanto, com simpatia a hipótese da exclusividade. Para ele, o papel principal nos postos bancários avançados deve ser dos Correios e não do BB ou de qualquer banco associado. ?Queremos desempenhar o papel social que outras instituições não estão podendo cumprir?, ressalta. Bom para os bancos privados, que têm limitações econômicas para expandir a rede e não poderiam fazer frente ao BB. Depois de levar o sistema financeiro aos municípios sem agência bancária, a empresa quer chegar também aos 41 milhões de brasileiros que moram em grandes centros mas estão fora do mercado por falta de renda mínima. Pode ser o embrião para dar um passo mais à frente: o de transformar o sistema atual de agências correspondentes em uma rede para um verdadeiro banco próprio.