No caixa passam nada menos que R$ 40 bilhões, como resultado de mais de 30 mil operações financeiras anuais. Só em transações cambiais são US$ 5 bilhões. Não estamos falando de um grande banco ou corretora brasileira. Essa é a Fiat Finanças, empresa criada para gerir o caixa das 47 empresas do grupo Fiat no Brasil. Assim como a montadora italiana, grandes empresas no País estão criando as chamadas supertesourarias. Andrade Gutierrez, Pirelli, Motorola, Sadia e Cargill são apenas algumas das companhias que adotaram esse modelo de gestão. Na prática, o que essas empresas têm são verdadeiras mesas de operações que acompanham, segundo a segundo, o mercado financeiro brasileiro. E a qualquer momento, como se diz no jargão financeiro, elas entram ?operando?. ?Estamos em tempo real com o mercado?, diz Daniel Lozano, diretor-superintendente da Fiat Finanças. A mesa da Fiat só perde em tamanho para as dos gigantes Bradesco e Itaú. Dessas estruturas, são feitas desde as mais corriqueiras transações, como simples cobranças, até complexas operações financeiras, como emissão de títulos no exterior. Os executivos da Fiat Finanças se gabam de ser uma referência no País. ?Todas as grandes empresas brasileiras já vieram conhecer nossa estrutura?, diz Lozano. Até diretores do Banco Central já foram a Nova Lima, cidade a 30 quilômetros de Belo Horizonte, conhecer a tesouraria da Fiat. ?Hoje somos mais parecidos com um banco?, resume Lozano.

 

O objetivo das empresas não é especular no mercado, mas ter os menores custos financeiros da praça, aumentando a rentabilidade da empresa. Como essas tesourarias operam em manada, em nome de várias empresas, o grande volume das transações garante as melhores condições de mercado. ?Conseguimos taxas muito boas para as companhias menores, que sozinhas não conseguiriam essa vantagem?, diz Ricardo Campolina, diretor-financeiro do grupo Andrade Gutierrez, que responde pelo caixa de mais de 50 empresas. Em um momento de dólar volátil, uma estrutura como essa faz a diferença. ?Na hora em que o mercado está nervoso, a empresa se defende melhor?, diz Campolina. O grupo Pirelli sabe bem disso. Grande importadora e exportadora, a companhia concentra suas atenções no mercado de câmbio. No dia-a-dia, os analistas acompanham de perto o sobe-e-desce do dólar e aguardam pelas notícias capazes de modificar o humor do mercado. E na melhor hora, a empresa entra comprando ou vendendo dólares. Como a Pirelli não é uma instituição financeira, precisa de bancos que atuem fisicamente para ela. Os analistas da fabricante de pneus e cabos, então, disparam ligações para as instituições financeiras, fazem as cotações e, em questão de segundos, o martelo é batido com o menor preço. Assim como em outras grandes tesourarias, a Pirelli trabalha com todos os bancos. Naturalmente, para manter um canal sempre aberto com as instituições. ?Trabalhamos com os melhores especialistas de cada área?, conta Mônica Fogazza, tesoureira da empresa italiana.

 

Gente de mercado. A ligação das tesourarias centrais com o mercado é quase umbilical. Muitos dos executivos que atuam hoje nas empresas vieram de bancos. ?Não existe mais aquela figura tradicional do diretor-financeiro. Hoje, eles são quase banqueiros?, diz Mário Batistel, diretor da corretora paulista Novação. Esse é o caso de Lozano, da Fiat. O executivo espanhol foi diretor do Banco Central Hispano, hoje pertencente ao Santander, antes de ingressar na Fiat da Espanha. Dali, foi comandar a tesouraria da matriz e, então, veio cuidar dos negócios do grupo no Brasil. E, como um homem de mercado, Lozano sabe que precisa antecipar os movimentos. ?Há seis meses, já calculávamos que haveria uma enxugamento do crédito. Por isso, lançamos CDBs para capitalizar o Banco Fiat, que atua com crédito para o financiamento de carros?, diz ele. Em geral, a relação entre empresas e bancos é bastante amigável. Mas que nenhuma instituição financeira se meta a tirar vantagem nos momentos de volatilidade. ?Eu sei quando o banco está tentando se aproveitar, querendo lucrar em cima da empresa. Mas um dia a crise acaba e a instituição vai sofrer as conseqüências?, diz a tesoureira da Pirelli, que tem 100% das operações no Brasil com proteção cambial, o chamado hedge,
em prazos que chegam até a oito anos. Não é por outra razão
que, mesmo nas horas em que as linhas de crédito externo
secam para as companhias brasileiras, a empresa italiana ainda consegue financiamento à exportação com taxas competitivas.
É para quem pode.