O Banco Central do Brasil (BCB) se prepara para elevar novamente a Selic, a taxa referencial de juros, em 0,5 ponto percentual na quarta-feira (2), para 13,75%, segundo o consenso do mercado, que antecipa o fim próximo desses aumentos para controlar a inflação.

O novo reajuste será definido em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) iniciada nesta terça.

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Se concretizada, será a 12ª alta consecutiva da taxa desde março de 2021, quando a Selic estava na mínima histórica de 2% como forma de estimular o consumo e o investimento em meio à pandemia da covid-19.

O nível de 13,75% seria o mais alto desde janeiro de 2017. O aumento de 0,5 ponto percentual é antecipado pela maioria das 100 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo jornal Valor Econômico.

O Índice de Preços ao Consumidor subiu 0,67% em junho e acumulou 11,89% em 12 meses, com ligeira aceleração em relação ao mês anterior, segundo dados oficiais.

No ano, a inflação acumulada, de 5,49%, já superou o teto de 5% da meta estabelecida pela autoridade monetária e deve chegar a 7,15%.

Com alimentos e combustíveis liderando, os incessantes aumentos de preços são um desafio para o governo de Jair Bolsonaro, que buscará a reeleição tendo como principal adversário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

– Ciclo estendido –

O BCB tem tentado frear a alta dos preços, elevando constantemente a taxa de juros. Além de lidar com um cenário interno de incertezas, no front externo, enfrenta o impacto da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia nos preços das matérias-primas e do petróleo.

A autoridade monetária moderou a magnitude dos movimentos da Selic desde junho, quando aumentou a taxa em 0,5 ponto percentual após dois movimentos de 1 ponto percentual, precedidos por outros três saltos de 1,5 ponto percentual.

Para esta nova reunião, o Copom antecipou um novo reajuste “de igual, ou menor, magnitude” que o anterior.

Diante da desaceleração do ritmo de alta da taxa referencial e do alto nível alcançado pela Selic – que já deve ter efeito sobre a inflação -, o mercado antecipa o fim do ciclo de ajuste monetário em patamar de 13,75% para o final do ano, de acordo com a pesquisa Focus do BCB.

Vários analistas acreditam, porém, que o Copom pode levar a Selic até 14%, ou até mais, nas próximas reuniões.

“A deterioração das expectativas de inflação justifica pelo menos mais dois ajustes na taxa básica de juros”, indica uma análise do banco digital C6, que projeta uma taxa de 14,25% ao final do ciclo.

A política do BCB havia disparado alarmes por seu impacto no crescimento econômico, que se esperava fraco no início do ano, em torno de 0,28% para 2022. As projeções melhoraram progressivamente, porém, até 1,97%, segundo pesquisa Focus.

O aumento da taxa básica de juros torna o crédito mais caro, desestimulando o consumo e o investimento e esfriando a economia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou preocupação com o nível da Selic. “Desde dezembro, a taxa real se encontra em patamar que inibe a atividade econômica”, comentou em nota o gerente e Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

Outros países também ajustaram suas taxas em alta diante da disparada da inflação em todo mundo. Entre eles, os Estados Unidos, onde o Federal Reserve anunciou na quarta-feira passada (27) o quarto aumento consecutivo, para 2,25%-2,50%.