A decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de elevar os juros em 0,75 ponto percentual para um patamar entre 2,25% e 2,50%, anunciada na quarta-feira (27), já era esperada pelo mercado. O que animou os investidores foi o tom mais brando adotado pelos diretores do Federal Open Market Comittee (Fomc). Na entrevista coletiva após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que pode haver mais uma elevação dessa magnitude na próxima reunião, marcada para setembro. No entanto, ele preferiu não se comprometer com nada em um futuro mais distante. “Com o avanço do aperto monetário, provavelmente será apropriado desacelerar os aumentos de juros”, afirmou. Por via das dúvidas, as declarações fizeram profissionais do mercado refazer suas contas.

A fala de Powell indicou para o mercado que o banco central americano está um pouco menos pessimista com relação à inflação. Os grandes números da economia justificam isso. Na manhã da quinta-feira (28), o Bureau of Economic Analisys (BEA) americano divulgou uma retração de 0,9% no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre. Como o PIB americano havia recuado 1,6% nos três primeiros meses deste ano, a notícia coloca formalmente os Estados Unidos em uma recessão técnica – dois trimestres consecutivos de encolhimento do PIB. “Esse resultado indica que alguns setores da economia já estão desacelerando, o que pode aliviar a inflação e diminuir o ritmo de aperto monetário”, disse o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

EXPECTATIVAS Isso muda o escopo do trabalho de Powell. Até há poucas semanas, a expectativa era de que o BC americano teria muito trabalho para conter a inflação. Porém, a meta agora é encontrar uma taxa de juros neutra, ainda que isso signifique reduzir a velocidade do aperto monetário. Esse objetivo pode estar perto. “A faixa atual já é a taxa de juros neutra”, disse Sung.

O próprio Powell já antecipou que, se a próxima alta for de 0,75 ponto percentual, ela deve ser a última dessa magnitude. “A coletiva do presidente do Fed tranquilizou o mercado, que já chegou a esperar uma alta 1 ponto percentual na divulgação de quarta”, disse o CEO da Veedha Investimentos Rodrigo Marcatti. Segundo ele, essa expectativa ganhou popularidade após o Índice de Preços ao Consumidor indicar uma inflação de 9,1% nos 12 meses até junho, a maior em 40 anos na história dos EUA.

Segundo Marcatti, o tom mais brando também mudou as projeções para a próxima reunião, mesmo que Powell não tenha dado instruções diretas para onde vão os juros. “Atualmente 60% dos analistas calculam uma alta de 0,5 ponto percentual para a próxima reunião, enquanto 40% cravam uma alta de 0,75”, disse o CEO da Veedha. Já Sung, da Suno, disse que não é possível prever qual será o próximo aumento, mas que oߺs dados do PIB são uma excelente bússola para Powell e o investidor.

Apesar da desaceleração do ritmo de atividade, a inflação segue surpreendendo negativamente o mercado. Segundo a economista-chefe da Upon Global Capital, Nicole Kretzmann, o Fed errou ao enxergar que a inflação era temporária. Por isso, um abrandamento prematuro no aperto monetário pode ter consequências drásticas. “O custo futuro de ter que se corrigir o rumo será ainda mais alto”, afirmou.