Ezedine tem 19 anos. Ele foi internado em um hospital de Jerusalém Oriental devido a um ferimento no olho esquerdo. Ele está entre as centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas.

Nos corredores do hospital Makased, dezenas de jovens andam de muletas ou em cadeiras de rodas. Alguns usam curativos, outros estão com infusão intravenosa.

Ezedine está na cama, o olho esquerdo coberto com gaze. Os médicos disseram ao jovem carpinteiro que ele não recuperaria a visão.

Ele prefere não dar seu sobrenome porque cruzou ilegalmente a barreira que separa a Cisjordânia ocupada de Israel. O jovem foi ferido por balas de borracha disparadas pela polícia israelense, na sexta-feira. Na ocasião, deixou sua cidade, Nablus, no norte da Cisjordânia, rumo a Jerusalém para orar com milhares de fiéis na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã, para celebrar o Ramadã.

À noite, eclodiram confrontos entre fiéis e a polícia israelense na Cidade Santa. Os palestinos dispararam projéteis contra as forças de segurança, que reagiram com bombas de efeito moral e tiros de borracha.

“Eles querem ocupar um lugar que não lhes pertence”, diz Ezedine, referindo-se à Esplanada das Mesquitas, chamada de Nobre Santuário pelos muçulmanos. Os judeus a chamam de Monte do Templo, seu lugar mais sagrado.

Desde sexta-feira, dezenas de policiais e cerca de 700 palestinos foram feridos na esplanada e em outros locais em Jerusalém Oriental, o setor palestino da cidade ocupado ilegalmente e anexado por Israel segundo o direito internacional.

Cerca de 100 feridos foram internados no hospital Makased nesta segunda-feira(10), disse a diretora Adnane Farhud à AFP. A maioria foi atingida na cabeça ou no peito, o que, segundo o médico, indica que as forças israelenses pretendiam causar ferimentos graves.

“Quando você quer machucar alguém, você atira na cabeça”, declara ele, insistindo que é o pior surto de violência na Cidade Velha em anos.

Em outras áreas de Jerusalém Oriental, o Crescente Vermelho Palestino instalou um hospital de campanha e o Hospital Augusta Victoria abriu uma sala de emergência.

– “Todo o mundo” –

Mais confrontos eclodiram na Esplanada na manhã de segunda-feira, quando centenas de palestinos dispararam projéteis contra as forças israelenses destacadas no local, que abriga o Domo da Rocha e a Mesquita de Al Aqsa.

As forças israelenses responderam com balas de borracha, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, uma das quais atingiu Siraj, 24 anos, nas pernas.

Em uma cadeira de rodas, o jovem palestino, que usa jeans, diz que saiu direto do canteiro de obras onde trabalha para a Mesquita de Al Aqsa para as orações matinais.

Lá “eles atiraram em todo mundo, jovens e velhos”, disse ele à AFP. “Eles jogaram uma granada de atordoamento no lugar onde eu estava.”

“Espero que a dor diminua”, diz Siraj, que afirma que os israelenses “provocam os jovens” palestinos.

A polícia diz que se limita a responder aos projéteis e às provocações dos manifestantes. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu elogiou a “firmeza” das forças de segurança em garantir a “estabilidade” em Jerusalém.

Em frente ao hospital Makased, jovens bloquearam a estrada com lixeiras à tarde para tentar impedir o acesso da polícia, que a poucos metros de distância jogou água podre neles para dispersá-los.