É difícil imaginar que o filme Rocky III tivesse feito o mesmo sucesso sem a trilha de “Eye of the tiger”, da banda norte-americana Survivor, ao fundo. Ou quem não se lembra da música marcante de Indiana Jones ou da trilha do clássico Casablanca? Assim como a vida imita a arte, o varejo começa a imitar o cinema. A nova moda é criar a trilha sonora perfeita para ambientes corporativos. Essa é a aposta da Rádio Ibiza, uma agência especializada em criar identidade musical para marcas e empresas. “Pensamos como seria a marca do cliente de forma musical”, conta Pedro Salomão, um dos sócios da Rádio Ibiza.
 

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Trupe em ação: da esq. para a dir., Pedro Salomão, Rafael Gasparian, 
Zé Marcio Alemany e Levi Gasparian, da Rádio Ibiza

“A trilha sonora adequada não só impulsiona as vendas como é uma ferramenta para se comunicar com o público-alvo”, completa. Fundada em 2004, a Ibiza atende cerca de 500 clientes, e mantém mais de três mil pontos de rádio, alguns deles internacionais, entre Paris, Milão e Nova York. No universo corporativo, as trilhas sonoras podem ser usadas em lojas, restaurantes, no atendimento telefônico, na recepção e até no elevador de companhias com os mais diversos perfis.

Entre os clientes da agência estão desde grifes de moda, como a Animale, até concessionárias de automóveis, passando por joalherias, como Natan e os shoppings Rio Design Barra e Rio Design Leblon. Para Fábio Fiorini, diretor executivo da consultoria de marcas Net Branding, ouvir uma boa música enquanto se faz compras ou se usufrui de algum tipo de serviço pode acrescentar sensações agradáveis à experiência que se tem com uma determinada marca.

“É um nicho de mercado que pode crescer muito”, explica Fiorini. O custo para criar uma programação de músicas e sons exclusivos, com a cara de uma empresa, vai de R$ 300 a R$ 3 mil por mês. Outro campo de atuação é o de pessoas físicas, que compram pacotes de música para ouvir em casa, no carro ou enquanto praticam esportes, por exemplo. Com a trilha sonora sob medida criada, basta carregar o tocador de MP3 ou celular.

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Lista sob medida: a trilha sonora personalizada pode ser usada para 
abastecer celulares ou tocadores de MP3. Depois, é só usufruir da discoteca particular

A Rádio Ibiza nasceu a partir da associação de Pedro Salomão, que era dono de uma produtora de comerciais, com os irmãos e DJs Rafael e Levy Gasparian. Recentemente, eles se juntaram à Degustasom, de Zé Marcio Alemany, especializada em música ambiente para restaurantes.

Os planos da Ibiza incluem entrar no ramo de vídeos corporativos e criar um selo fonográfico exclusivo para escoar a produção de novos artistas. O álbum da cantora Tamy, por exemplo, que emplacou um sucesso na novela “Viver a Vida”, da Rede Globo, deve chegar às lojas ainda neste ano pela Rádio Ibiza. 

Iniciativas como essa nasceram a partir de um estado de crise no mercado fonográfico, diz a trupe da Ibiza. Para se ter uma ideia, em 2002, foram vendidos 75 milhões de CDs e DVDs no Brasil. Em 2009, esse número baixou para 25,7 milhões de unidades, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD).

O CD é um produto que já não vende mais como antigamente e muitas rádios comerciais ainda vivem a era do “jabá” – prática pela qual o artista paga para que suas músicas sejam tocadas –, prejudicando a seleção. Para além da crise, hoje há a consciência de que uma música adequada é uma poderosa ferramenta de marketing. 

“A escolha das canções tem de ser feita com muito critério para não despertar sensações indesejadas”, aponta Alexandre Marino, professor de trilha sonora do curso de rádio e tevê da Universidade Anhembi Morumbi. “E o mais importante: a música não pode ofuscar o produto.”