A animação dos moradores do entorno da Praça São Salvador, na zona sul do Rio de Janeiro, moveu hoje (13), pela 13ª vez, o desfile do Bloco Bagunça Meu Coreto. O cortejo é organizado desde 2005, quando um grupo de residentes se juntou para fundar o bloco, unindo a vontade de se divertir com a necessidade de escapar de blocos saturados de foliões.

Reunindo por mais um ano gente de todas as idades e até bichos de estimação, a banda saiu por volta das 10h para percorrer um pequeno trajeto pelo bairro. Passou por baixo das centenárias palmeiras da Rua da Paissandu e em frente a uma casa de repouso para idosos, onde muitos estavam à espera, nas janelas. Depois de muitas marchinhas e de banhos de mangueira, dados pelos próprios moradores do alto dos apartamentos, a banda voltou ao coreto da praça, palco de atrações ao longo do ano, onde toca desde o início da tarde.

A organização é feita por um grupo de moradores do entorno da praça São Salvador e que chega a 40 pessoas. Entre elas, a professora universitária Regina Simões Barbosa. Ela destaca o clima festivo do Bagunça por mais um ano e a importância dele para quem vive ali. “O encontro aqui é sempre maravilhoso, sempre encantador, todo mundo fantasiado, a praça fica colorida e o coreto se torna a cabeleira do Zezé”, disse, referindo-se à tolerância e à diversidade do bloco.

Amigos há mais de 20 anos, desde os tempos da escola, um grupo de 21 pessoas montou uma fantasia coletiva. Eles se vestiram de peixes, tubarões e até conchas, simbolizando o fundo do mar, sob o comando do personagem bíblico Moisés. Todas as vezes em que passava um outro grupo grande, o Moisés do carnaval “abria o oceano”. Então, os componentes se separavam, simulando a “abertura do Mar Vermelho” e deixavam os outros passar.

A idealizadora da fantasia, Juliana Navarro, de 31 anos, chamada pelos amigos de “Paulo Barros do carnaval de rua”, em referência ao carnavalesco de sucesso, disse que a ideia era mesmo brincar. “A gente vive aqui na praça. É nosso ponto de encontro na semana. Nada mais normal do que vir aqui juntos no carnaval. São 20 anos de amizade”, comentou.

Carnaval em família

Para a professora Olívia Trindade, de 36 anos, o cortejo do Bagunça é uma forma de juntar a família, sem abrir mão do conforto. Ela perdeu a conta dos desfiles de que participou com “quase toda árvore genealógica”, brincou. “Com a família toda, a gente só vem aqui. Temos uma tia que mora perto [na praça], então é bom ter esse suporte.”, disse ela, acompanhada da avó, da mãe, da tia e da filha. “É um carnaval que remete ao de antigamente. A gente canta as marchinhas, dança, curte, não fica muito lotado”, acrescentou.

O carnaval da São Salvador atraiu, além de moradores, turistas de várias partes do país. Uma operadora desembarcou três ônibus ao lado da praça, com interessados em conhecer o lado “íntimo” do carnaval carioca. “Olha, falaram para a gente que aqui dá para bricar sem enfrentar a muvuca. Então, viemos conferir”, disse a paulistana de 27 anos, Jaqueline Serula, que estava acompanhada de mais duas amigas de mesma idade.