Quando abriu o capital na Bolsa de Nova York, em setembro de 2014, a gigante chinesa de comércio eletrônico Alibaba conseguiu captar US$ 25 bilhões, um recorde no mercado acionário americano. No primeiro dia em que seu papel foi comercializado, as ações, cujo símbolo são as letras “BABA”, subiram 38%. Na época, seu valor de mercado chegou a US$ 231 bilhões, colocando a companhia fundada pelo chinês Jack Ma no Olimpo do capitalismo, à frente do Facebook. Muitos analistas acreditavam que esse desempenho poderia ser uma bolha e que não se sustentaria. Mas, quase três anos depois, os resultados da Alibaba são, literalmente, de babar.

O valor de mercado da Alibaba chegou a US$ 448 bilhões, na quinta-feira 24. Esse montante é só US$ 9 bilhões inferior ao da Amazon, do empresário Jeff Bezos, a maior empresa de comércio eletrônico do planeta. Neste ano, o papel da companhia de Jack Ma já se valorizou 99,2%. A de Bezos, 27%. O que explica esse salto? Basta observar os resultados do primeiro trimestre fiscal de 2018 da Alibaba, nos meses de abril a junho, para entender o desempenho. A companhia registrou um lucro líquido de US$ 2,17 bilhões, alta de 94,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

A receita, por sua vez, passou de US$ 4,15 bilhões para US$ 7,40 bilhões. “O forte início do ano fiscal de 2018 reflete a força e a diversidade dos nossos negócios”, disse Daniel Zhang, CEO da Alibaba. Com exceção do e-commerce, o serviço de computação em nuvem foi o que mais cresceu: 96% em relação ao ano passado. Isso resultou em mais US$ 359 milhões para os cofres da empresa. O Youku Tudou, serviço de streaming chinês semelhante ao YouTube, também obteve destaque: expansão de 30% na receita, faturando US$ 602 milhões.

Rival ocidental: A Amazon, de Jeff Bezos, faturou cinco vezes mais do que o Alibaba, mas lucrou bem menos (Crédito:Patrick Fallon)

Com ações sendo vendidas atualmente por US$ 175, “a Alibaba se tornou o melhor negócio para se investir entre as companhias que valem mais de US$ 200 bilhões”, classificou Rob Sanderson, diretor da MKM Partners, empresa de pesquisa de mercado dos Estados Unidos, ao site da emissora de tevê americana CNBC.  Antes pessimista, o mercado agora vê com bons olhos os negócios do varejista chinês. Na previsão da MKM Partners, as ações devem subir 26% nos próximos 12 meses. Se isso acontecer, elas serão comercializadas daqui um ano por US$ 220 cada.

Mesmo com faturamento de US$ 38 bilhões em seu último trimestre fiscal, mais de cinco vezes maior que o da rival chinesa, o lucro da Amazon caiu 77% no período e fechou em somente US$ 197 milhões, menos de um décimo do registrado pelo e-commerce chinês de Jack Ma. “O lucro da Alibaba é maior, mesmo com menos faturamento, porque a empresa tem gastos inferiores”, diz Marcelo Coutinho, coordenador do curso de mestrado da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Enquanto a Alibaba se consolida como e-marketplace, a Amazon precisa arcar com estoque e distribuição.” A Amazon enfrenta também o endurecimento da concorrência de seu principal rival no mundo físico nos Estados Unidos: o Walmart.

Na semana passada, a companhia de Bentonville, no Arkansas, anunciou uma parceria com o Google para oferecer o serviço de compras online por meio do alto-falante inteligente Google Home. O acordo permitirá que milhares de produtos do catálogo da Walmart possam ser adicionados ao carrinho virtual com simples ordens via Google Home. Outra novidade é que clientes da rede varejista americana poderão associar suas contas ao Google Express para que a empresa aprenda o comportamento de cada consumidor e utilize tais dados para sugerir futuras compras. Esse anúncio colocou mais pressão sobre a Amazon.

A Alibaba, apesar desse crescimento, tem enormes desafios para se tornar um competidor de peso para a Amazon. O principal deles é ganhar relevância fora da China e da Ásia, onde é líder inconteste. Atualmente, apenas 4% das receitas da companhia de Jack Ma vêm do exterior. “A Alibaba está focado em aumentar a sua penetração no mercado chinês”, diz Sandy Shen, diretor de pesquisas da consultoria americana Gartner. A favor de Ma está o fato de que a Amazon também não consegue ganhar mercado na China.

Mas, sem muito alarde, o criador da Alibaba parece que está pavimentando o terreno para entrar nos Estados Unidos. A imprensa americana já relata encontros entre o empresário chinês e membros do governo, inclusive com Ivanka Trump, filha do presidente Donald Trump, e com Wilbur Ross, secretário de comércio dos Estados Unidos. As reuniões têm um único objetivo: aproximar a Alibaba do ocidente. Para fazer isso, Ma promete criar até um milhão de empregos nos Estados Unidos.  Se conseguir, o Alibaba estará dando um enorme passo em direção ao sonho americano.