Janeiro de 2020. Dois meses antes de a pandemia sacudir o setor aéreo no Brasil e no exterior, a Azul anunciou em fato relevante a compra, por R$ 123 milhões, da TwoFlex, empresa brasileira de voos regionais baseada em Jundiaí (SP). O plano estratégico estava devidamente traçado: ampliar a participação da Azul nas rotas que ligam o interior às capitais e reduzir o avanço da concorrente Gol pelos rincões do País. Oito meses depois, entrou em operação a Azul Conecta, subsidiária que completou dois anos de atividades no mês passado com muitos motivos para comemorar: aumento do número de voos, de aviões e de destinos. “A expansão da malha, o transporte de cargas e a habilidade para enfrentar os concorrentes estão entre as razões para termos comprado a Conecta”, afirmou à DINHEIRO John Rodgerson, CEO da Azul.

O projeto tem se mostrado vitorioso. Integrada à malha da Azul, a Conecta atende 63 destinos, número que deve chegar a 81 até o fim de 2022. O incremento vai trazer benefícios também para a Azul, que deve fechar o ano com serviço em 170 cidades no País (contra 119 em 2019, antes da pandemia). “Temos mais ou menos 60 municípios a mais para servir somente por causa da Conecta.” O aumento do número de destinos atendidos pede investimentos em pessoas e aeronaves. O braço regional tem 290 tripulantes, sendo 200 pilotos. São 22 aviões na atualidade (modelo Cessna Grand Caravan, de nove assentos), com a previsão da chegada de outros cinco até o fim de dezembro — cada unidade custa cerca de US$ 3 milhões.

Flávio Costa, diretor-presidente da Azul Conecta, explica a preferência pelo modelo. “O Caravan é uma aeronave típica para táxi aéreo e voos de executivos. Voa em torno de 200 a 250 horas por ano”, afirmou. “Nós estamos voando cerca de 250 horas por mês, média de 7,6 horas por dia. Tudo por causa da demanda, que é muito alta.” São realizados diariamente uma média 70 voos. O percurso cumprido em baixa altitude, aliado ao visual, tem se revelado um grande atrativo para os clientes.

O aumento da frequência de voos traz desafios importantes à companhia e até para os fornecedores e fabricantes, que, de acordo com o executivo, nunca tiveram tanta demanda no segmento no País. “Outro dia tive problemas para encontrar pneus”, disse Costa. A manutenção das aeronaves é realizada em três bases pelo País: no hangar situado no aeroporto paulista de Jundiaí, onde são feitos os serviços mais pesados, em Cuiabá (MT) e em Manaus (AM).

Mas nem tudo é céu azul. A empresa também tem de enfrentar as condições dos aeródromos no interior do País, que normalmente funcionam com poucos recursos de navegação. “Temos de operar nessas localidades com regularidade, segurança, mas também entendemos que alguns não tenham os recursos necessários para funcionar em dias de condições meteorológicas adversas”, disse o executivo da Azul Conecta, ao destacar que segurança é o primeiro valor da aérea, a exemplo do que acontece na controladora Azul. “Não voamos por voar. Voamos quando temos certeza de que o passageiro vai chegar na casa dele com segurança, com tudo o que pode ter”, afirmou.

Além de ampliar a malha regional ao fazer a ligação entre capitais e cidades interioranas pelo Brasil, a Azul Conecta tem outro importante papel: serve de incubadora para a sua controladora. “Pilotos são treinados aqui e depois seguem para a Azul. Assim como a implementação de novas tecnologias e de inovações é mais rápida aqui. Depois levados para lá”, afirmou o presidente da Conecta, ao destacar que recentemente a empresa utilizou realidade virtual no treinamento de pilotos, ambiente que será desenvolvido também no treinamento de comissários na Azul. “Estamos trabalhando com inteligência artificial no controle de estoque, porque na Conecta o material de aviação é muito mais reduzido. Então, se funciona aqui, eu posso seguir depois para a Azul.”

“Basta imaginar que podemos povoar o interior do Brasil com a integração das malhas da Conecta e da Azul” John Rodgerson, CEO da Azul linhas aéreas.

Rodgerson diz que a subsidiária tem uma oportunidade e igualmente uma responsabilidade social e de desenvolvimento do País muito grande. “Basta imaginar que podemos povoar o interior do Brasil. Eu tenho pessoas que podem sair dessas cidades pequenas e voar para Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, com a integração entre as malhas da Conecta e da Azul.” A empresa não descarta vir a operar com uma aeronave que possa pousar na água na região amazônica. “Há uma hidrografia enorme.” Mas o assunto ainda é tema de conversas entre os dois executivos.

Na operação da Conecta, a Azul é a responsável pela precificação das passagens. Um voo de 25 minutos entre as paraenses Porto Trombetas e Oriximiná, o trecho mais curto disponibilizado no site, pode ser encontrado por R$ 165, dependendo da data. Mas o custo pode superar R$ 3 mil no trajeto mais longo, de três horas, entre Cuiabá (Mato Grosso) e Ji-Paraná (Rondônia). A Azul Conecta também tem outros modelos de serviços, que incluem táxi aéreo, fretamentos para a indústria, para executivos e até para médicos, além de alternativas específicas para carga. “O Brasil é muito grande. Há muitas regiões ainda a serem exploradas, o desafio é criar meios para que isso possa acontecer”, disse Rodgerson.

APÓS SUBORNO, GOL FAZ ACORDO DE US$ 41 MILHÕES COM OS EUA

Divulgação

A Gol Linhas Aéreas assinou acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos em caso relacionado a pagamento de propinas. A informação foi divulgada pelo órgão americano no último dia 15 e obriga a companhia a pagar mais de US$ 41 milhões para travar as investigações. A Gol teria violado leis antissuborno. Foram pagos o equivalente a US$ 3,8 milhões em propinas a autoridades brasileiras para garantir a aprovação de duas leis favoráveis à empresa que envolviam reduções de impostos sobre a folha de pagamento e do preço do combustível. As autoridades brasileiras não foram identificadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e nem pela Gol em nota divulgada à DINHEIRO.

Diz a companhia aérea que cooperou inteiramente com todas as autoridades relevantes nos Estados Unidos e no Brasil e que nenhum dos funcionários atuais, representantes ou membros do Conselho de Administração ou da administração “tinham ciência de qualquer propósito ilegal por trás de qualquer uma das transações identificadas, ou de qualquer benefício ilícito para a companhia decorrente das transações investigadas.”

O montante de US$ 41 milhões corresponde ao pagamento de US$ 17 milhões ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e US$ 24,5 milhões ao SEC (órgão de controle dos Estados Unidos), que irão creditar US$ 3,4 milhões à Controladoria Geral da União (CGU), no Brasil, como parte do acordo de leniência. Do valor total, US$ 12,6 milhões serão pagos ainda este mês e o restante em até dois anos.