Dora Mendoza compareceu, nesta quinta-feira (26), à escola de ensino fundamental da cidade texana de Uvalde para homenagar sua neta de 10 anos, Amerie Garza, assassinada no mesmo local na terça-feira (24), e para pedir ao governo dos Estados Unidos que evite outra tragédia.

As autoridades “devem fazer algo sobre isso. Por favor, não se esqueçam das crianças. Não sabemos o que viveram. Por favor, eu imploro que escutem”, pediu entre soluços.

Atrás dela, a escola de ensino fundamental Robb, onde há dois dias um jovem matou a tiros 19 crianças e dois professores, tornou-se um local de recolhimento com cruzes para as vítimas e inúmeros buquês de flores.

“Minha neta estava lá dentro”, disse Mendoza, de 63 anos. “Ela era uma garota inocente que gostava da escola e estava ansiosa para o verão. E ela não poderá mais viver isso. Minha alma dói porque não poderei mais vê-la”.

Amerie vivia com os avós. Na terça-feira pela manhã, Mendoza foi para a escola assistir a uma cerimônia na qual vários alunos, inclusive sua neta, receberam um prêmio por suas boas notas.

Quando acabou a celebração, a menina quis ir embora para casa. O ano letivo estava prestes a acabar e o colégio estava realizando apenas eventos extracurriculares.

“Nós dissemos a ela: ‘não, minha filha, até sexta-feira você tem que ir'”, lamenta Mendoza.

Pouco depois, perto do meio-dia, um menino de 18 anos, Salvador Ramos, entrou na escola com um fuzil de assalto, se trancou em uma sala aula e abriu fogo, antes de ser morto pela polícia.

O massacre, o pior em uma escola dos Estados Unidos em uma década, comoveu Uvalde, uma cidade tranquila de aproximadamente 15.000 habitantes de maioria hispânica.

E reacendeu o debate sobre a necessidade de controlar melhor as vendas de armas no país, como ocorreu nos últimos anos, depois de cada tiroteio em um colégio americano.

Yaritza Rangel, 23 anos, foi à escola Robb nesta quinta-feira com seus quatro filhos, um deles um bebê em um carrinho, para colocar flores em homenagem às vítimas. Seu sobrinho está traumatizado, diz ela. O menino estava em uma sala de aula na terça-feira, onde o assassino tentou entrar, mas não conseguiu.

A poucos metros da escola, numa rua de casas simples de madeira, Rangel exigiu que as autoridades verificassem os antecedentes dos compradores de armas e avaliassem sua saúde mental.

“Isso não faz sentido. Você tem que esperar até os 21 anos para comprar álcool. Por que eles deixam jovens de 18 anos comprar fuzis ou qualquer tipo de arma?”, disse ele.

A jovem, que tem os filhos em outra escola de Uvalde, considerou que a escola Robb devia reforçar a sua segurança.

“Eles deixam todo mundo entrar e não deveria ser assim”, lamentou.

Rangel está preocupada que um de seus filhos vá para a escola Robb no ano que vem. “O que acontece se isso acontecer de novo?”, se perguntou.