A Aerovías Nacionales de Colombia, popularmente conhecida como Avianca, tem em seu histórico o posto de companhia aérea há mais tempo em atuação ininterrupta no planeta. São 103 anos de voos, seja com céu azul, seja em meio a tempestades. Um dos períodos mais desafiadores chegou como uma nuvem qualquer em 2020, mas teve efeitos devastadores no setor. Provocou um pouso de emergência coletivo e suspendeu quase 100% das operações das empresas por meses. Um prejuízo global de US$ 137,7 bilhões que este ano deve ficar em US$ 6,7 bilhões. Sem liquidez, a aérea colombiana seguiu o caminho de muitas outras pelo mundo e, em maio daquele ano, apelou ao Chapter 11 (Capítulo 11, equivalente americano à recuperação judicial brasileira), para se proteger das dívidas — estimadas à época em até US$ 10 bilhões. Fora da recuperação judicial desde dezembro de 2021 e, após um período de transição em 2022, a Avianca se prepara para consolidar o negócio em 2023 e ganhar altitude com aquisições, novos aviões, novas rotas, além de outras iniciativas. “A companhia está melhor”, afirmou à DINHEIRO Adrian Neuhauser, CEO e presidente da empresa. “Mas ainda não em números azuis, como gostaríamos.”

Os números são mantidos em sigilo, mas a cautela mostra-se fundamental diante das projeções da Associação Internacional de Transportes (Iata) para o setor na América Latina. As aéreas da região devem fechar este ano com prejuízo acumulado de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,5 bilhões) — o equivalente a 2,4% do faturamento total —, montante que deve cair para US$ 795 milhões (cerca de R$ 4,1 bilhões), ou 0,6%, no ano que vem. A projeção é que a demanda de passageiros cresça 9,3% na próxima temporada, enquanto o total de pessoas transportadas alcance 95,6% do nível registrado no período pré-pandemia, no início de 2020.

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“O correto para a colômbia é permitir que a viva se salve. negar isso é uma decisão equivocada” Adrian Neuhauser, CEO e presidente da Avianca.

A aposta da Avianca para ampliar a participação no mercado latino-americano está no Grupo Abra, holding criada em parceria com a brasileira Gol. O acordo anunciado em maio deu origem ao maior grupo de transportes da América Latina, com receita anual de US$ 7 bilhões e frota de 300 aeronaves. Com sede no Reino Unido, o Abra controlará os negócios das companhias e receberá uma capitalização de US$ 350 milhões em recursos novos de um conjunto de investidores, com destaque para Elliott International, South Lake e Kingsland, fundos acionistas da Avianca após o período de reestruturação financeira, finalizado em dezembro de 2021.

TRANSFORMAÇÃO Neuhauser classifica 2022 como o ano de transformação da Avianca. A companhia deve fechar os 12 meses com 22,6 milhões de passageiros transportados e espera conduzir outros 4 milhões na alta temporada, com sete novas rotas — e a reativação de outras 15 — a partir deste mês e outras 20 em 2023, quando integrará à sua frota 30 aeronaves. Entre as novas rotas, uma ligará Cartagena a São Paulo.

O CEO descartou, no entanto, preços mais competitivos porque o “mundo mudou”. Segundo o executivo, o petróleo subiu mais de 15% na comparação ao ano passado, a inflação na América Latina cresceu dois dígitos, o dólar valorizou, enquanto as moedas da região desvalorizaram dois dígitos. “Isso significa que um assento hoje é muito mais caro que em 2019, no período pré-crise sanitária.”

A Avianca lidera o mercado colombiano, com 41,7% de participação, seguida pela chilena Latam (21,5%) e pela também colombiana Viva (19,2%), e espera consolidar a posição com a aquisição dos direitos econômicos da Viva. A empresa chegou a anunciar a compra da aérea low-cost em abril, mas a negociação foi vetada pela Aeronáutica Civil, órgão regulador na Colômbia, sob a justificativa de que a integração representaria riscos para a concorrência no setor de aviação comercial. O negócio, segundo o órgão, faria com que o mercado colombiano retornasse a níveis de sete anos atrás em termos de livre concorrência.

A companhia recorreu à entidade na intenção de evitar possível falência da Viva, afetada economicamente pela pandemia. A Avianca ofereceu à Aeronáutica Civil série de contrapartidas para minimizar os impactos da integração no mercado nacional, como a devolução de porcentagem relevante de slots (licenças de pouso e decolagem) e cessão de slots com ativos aos concorrentes. O objetivo é que outras companhias aéreas possam, se tiverem interesse, aumentar suas operações no aeroporto El Dorado, o principal do país, situado na capital, Bogotá.

A decisão final da Aeronáutica Civil deve sair até fevereiro de 2023, mas Neuhauser avisa que não existe um plano B caso o negócio seja vetado definitivamente. Segundo ele, a aquisição pode salvar ao menos 5 mil empregos diretos, além de manter as operações dos 22 aviões da Viva. “O correto para o país é permitir que a Viva se salve. Negar isso por uma preocupação competitiva com a Avianca é uma decisão equivocada”, disse o executivo, com a expectativa de que a Avianca abra ainda mais as asas no mercado latino-americano. Um jogo de pousos e decolagens em que o fundamental é preencher os assentos — e os espaços.

United encomenda 100 unidades do Boeing 787

Prova de que o horizonte está positivo para as companhias aéreas globais é americana United Airlines. A empresa encomendou 100 aeronaves modelo Boeing 787 para dar andamento ao seu programa de substituição de fuselagem larga — geralmente utilizado para voos longos e intercontinentais, acomodando maior número de passageiros e quantidades de carga.

Além da encomenda feita, a companhia aérea tem opções para mais 100 Boeing. As entregas estão programadas para começar em 2024 e continuar até 2032. A United afirma que tem flexibilidade para escolher entre as variantes 787-8, 787-9 e 787-10. A United ainda tem 45 Airbus A350-900 encomendados, decorrentes de um acordo de 2012 para 25 que foi revisado em 2013 e novamente em 2017.

Durante uma teleconferência para discutir a futura frota da United, o CFO da companhia aérea, Gerry Laderman, comentou que a empresa firmou um acordo também com a Airbus para modificar o cronograma de entregas. Laderman afirmou que as entregas do A350 estão programadas para começar até 2030 e acrescentou que o Airbus A-350 é uma ótima opção como substituto do 777.

Delta foca na conveniência

“O objetivo não é vender para quem quer o menor preço, mas quer um serviço completo” Rahsaan Johnson, diretor de comunicação da Delta. (Crédito:Divulgação)

Para chegar aos principais destinos dos EUA, seja em Orlando, Miami ou Nova York, há dois hubs principais de conexão os quais o viajante deve passar: Atlanta e Miami. Companhias como a American Airlines trabalham majoritariamente com conexões em Miami. Já a Delta tem seus esforços centralizados em incentivar o brasileiro a escolher o aeroporto de Atlanta, através de uma nova joint venture com a Latam, oferecendo mais voos e destinos. “O objetivo não é vender para quem quer o menor preço, mas sim para quem quer um serviço completo, com conveniência e assentos melhores”, disse à DINHEIRO Rahsaan Johnson, diretor-geral de Comunicações Internacionais da Delta, que veio ao Brasil acompanhado por Elizabeth Ninomiya, gerente Latam de Comunicações da Delta (foto).

A associação entre as companhias tornará possível a oferta de mais de 20 rotas entre Estados Unidos e América do Sul, além de mais de 70 destinos nos Estados Unidos e 40 na América do Sul. Para os milheiros, o acordo entre Latam e Delta permite que os clientes do programa das duas companhias acumulem milhas e pontos em seus respectivos planos de passageiros frequentes, incluindo embarque prioritário, bagagem adicional e acesso às salas VIP para determinadas categorias.

O aeroporto de Atlanta será um desafio para a Delta, por ter historicamente pouca aderência entre os brasileiros, tradicionais fãs de Miami. E há vários motivos para isso. Seja pela afinidade natural com a cidade da Flórida, já que ela tem forte presença latina na cultura, ou com o conhecimento do hub em si. Entre as ideias em discussão para lidar com esse cenário, o executivo de comunicação da Delta comentou que a companhia foca em proporcionar uma experiência completa, com pontualidade e conexão ajustada, principalmente para assentos de primeira classe e de turismo empresarial.