A Shein cresceu. Plataforma de e-commerce com um modelo puramente cross border, apoiado por uma rede de fornecedores na China, a empresa pode alcançar um valor de mercado de US$ 100 bilhões. Em conversas com investidores, segundo o The Wall Street Journal, a companhia teria levantado entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões, recurso que ajudaria a destravar seu potencial no mercado. Se bem-sucedida na empreitada, a marca chinesa se tornaria mais valiosa que o grupo Zara (do Grupo Inditex, que vale cerca de US$ 68 bilhões) e o H&M (avaliado em US$ 20 bilhões) combinados. Embora tratem do valor do negócio de forma mais ampla, o envolvimento de tubarões do mercado de capitais nessas rodadas, como o fundo norte-americano de growth equity General Atlantic e as já investidoras Tiger Global Management e Sequoia Capital China, indicam a dimensão do negócio que a Shein construiu na última década.

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Se o modelo do fast fashion está desgastado entre consumidores, não significa que não haja mais público para ele. Na verdade, a Shein entrou neste segmento para suprir uma carência desse tipo de consumidor: traz todas as peças da moda a preços extremamente competitivos. Com cerca de seis mil itens lançados diariamente no aplicativo, a empresa se baseia no uso de softwares de inteligência artificial, alimentados pelos dados dos usuários. Em 2021, o prazo para produção de uma coleção na Shein era de até sete dias. Até então, o marco no setor era da Zara, que fazia o lançamento em até três semanas. Barata e antenada à demanda da geração Z (nascidos entre 1995-2010), a marca estabeleceu um novo ritmo para o consumo de moda no mercado, o que vem ameaçando o império dessas gigantes varejistas globais. A companhia vende para mais de 220 países e mantém centros de armazenamento em pelo menos oito, concentrados principalmente na Europa, de onde consegue distribuir facilmente para os Estados Unidos, onde é responsável por 28% das vendas, de acordo com a Earnest Research.

Mirando crescer na América Latina, o Brasil já entrou no radar da Shein. Neste início de ano, a empresa investiu em uma loja pop-up (espaço físico conceito da marca que opera por tempo determinado) para receber visitantes do Shopping Village Mall, no Rio de Janeiro. Outra estratégia que a plataforma havia adotado para conquistar o consumidor brasileiro foi diversificar os formatos de pagamentos. Ter a opção de parcelamento da compra é um diferencial para as marcas se consolidarem no mercado nacional, e a Shein, no caso, aceita ainda pagamento via Pix, que já virou o método preferido pelos brasileiros. As empresas daqui, atentas ao crescimento da chinesa, vêm apostando fortemente em serviços. Gigantes como C&A, Renner e, mais recentemente, Magazine Luiza, investem na sua cadeia logística, com criação de dark stores, integração de estoques e diversificação de parceiros que fazem a última milha para garantir entregas até para o mesmo dia dependendo da região. Foi a forma que encontraram de brigar com a plataforma, cujo maior desafio hoje são as barreiras logísticas, que podem estender a espera pela compra por muitos meses.

Outra briga travada no varejo é um movimento liderado por empresários (entre eles, Luciano Hang, dono da Havan) junto ao governo para solicitar alterações nas normas tributárias nessas plataformas, taxas que não existem no momento da compra. Pela regra vigente, pessoas físicas são isentas de taxas de importação e custos aduaneiros para compras abaixo de $50. Enquanto o setor pressiona, a Shein cresce. Se vale ou não os $ 100 bilhões, fato é que só de o número ter sido aventado em papo com grandes investidores já diz muito sobre o seu peso no mercado hoje – e, principalmente, sobre a ameaça que ela representa aos impérios do fast fashion.