A Austrália foi vítima de um ataque cibernético realizado por um “ator ligado a um governo” que visou sistemas de computadores governamentais e empresariais, disse o primeiro-ministro Scott Morrison nesta sexta-feira.

O dirigente organizou uma conferência de imprensa de emergência em Canberra para alertar os cidadãos sobre os “riscos específicos” a que estão expostos.

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“Atualmente, existem organizações australianas que estão sendo alvo de [um ataque] por um sofisticado ator estatal”, disse Scott Morrison, observando que o ataque afetou “organizações australianas em vários setores, em todos os níveis de governo, desde economia, organizações políticas, serviços de saúde e outros operadores estratégicos de infraestrutura”.

Segundo a imprensa local, a lista de suspeitos é muito pequena, entre os Estados com experiência nesse campo (além de países ocidentais, China, Coreia do Norte, Irã, Israel ou Rússia).

Os veículos levantaram suspeitas em relação à China, que em maio impôs tarifas punitivas sobre certas exportações australianas.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirmou hoje que seu país era “um defensor determinado da segurança cibernética” e que sempre se opôs a “qualquer tipo de ataque cibernético”.

Segundo a agência australiana responsável pela informação e pela segurança eletrônica, esse ataque foi pensado para ser incapaz de detectar sua origem.

Com este objetivo, os autores utilizaram programas da “dark web” e de acesso livre, de acordo com a mesma fonte.

Esses são particularmente “códigos de exploração” que atacam vulnerabilidades de antigos produtos da Microsoft, Telerik, SharePoint e Citrix, assim como programas “web shell” que, uma vez baixados, permanecem em servidores corrompidos.

Esses ataques também usam técnicas de ‘phishing’, que consistem em enviar mensagens com arquivos e links da web ou no Office365.

– “Espionagem e interferência” –

O governo Morrison causou fortes inquietações em Pequim ao pedir uma investigação internacional independente sobre as origens da pandemia de coronavírus e denunciando a diplomacia chinesa por ser agressiva e desonesta.

A China respondeu aconselhando seus cidadãos a evitarem a Austrália como destino turístico ou de estudo, ameaçou retaliar ainda mais e condenou um australiano à morte por tráfico de drogas.

No ano passado, o parlamento e os partidos políticos australianos se preocuparam com uma tentativa de interferência de uma potência estrangeira no mundo político.

A China foi então acusada, embora o primeiro-ministro nunca a tenha citado explicitamente. O governo chinês rejeitou as acusações e as chamou de mentiras irresponsáveis e difamatórias.

Alguns meses antes, o ex-chefe de contraespionagem australiano, Duncan Lewis, demitido em setembro, acusou Pequim de querer “tomar o controle” do mundo político através “da espionagem e interferência”.

Nesta sexta, Morrison afirmou que havia informado à oposição desses ataques “maliciosos” cibernéticos e pediu para instituições e empresas a “se protegerem”.

Ele não forneceu detalhes técnicos, mas indicou que os dados pessoais dos australianos não foram roubados e que muitos ataques falharam.

“Incentivamos as organizações, especialmente a saúde, a infraestrutura estratégica e os serviços essenciais, a usar especialistas para implementar sistemas de defesa técnica”, enfatizou.

A Austrália faz parte da aliança de informações chamada “Five Eyes” junto aos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia, o que a torna um alvo para seus adversários.