O chefe da oposição síria no exílio, Naser al-Hariri, lamentou neste sábado em Riade “a ausência de vontade internacional” a favor de uma solução política que ponha fim à guerra que devasta a Síria há oito anos.

“A ausência de vontade foi o que impediu a ONU e seus emissários de fazerem alguma coisa” até agora, apontou Al-Hariri em uma entrevista à AFP, um dia depois de seu encontro com Geir Pedersen, o quarto enviado da ONU encarregado de encontrar uma solução para esse conflito, que deixou mais de 360.000 mortos e milhões de refugiados.

A guerra começou em março de 2011, após a repressão violenta, pelo regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, de manifestações que pediam reformas democráticas.

O conflito, que inicialmente opôs os rebeldes e as forças pró-Assad, se complicou ao longo dos anos com o envolvimento de grupos jihadistas e potências estrangeiras.

O diplomata norueguês Geir Pedersen assumiu suas funções em 7 de janeiro, com a esperança de relançar o processo de negociação para pôr fim à guerra.

Após a visita a Damasco, na terça-feira, para conversar com representantes do regime sírio, Pedersen viajou a Riade para escutar a oposição no exílio.

Os três emissários da ONU que o antecederam, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, o argelino Lakhdar Brahimi e o ítalo-sueco Staffan de Mistura, jogaram a toalha.

De Mistura lançou novos ciclos de negociações de paz entre o regime e a oposição, todos sem resultados.

Teve de enfrentar um processo paralelo de resolução do conflito denominado “Astana”, lançado pela Rússia e pelo Irã – aliados de Assad – e pela Turquia, que apoia os rebeldes.

Estas três potências dominam agora o processo sírio.

Segundo Hariri, “algumas partes (no processo) de Astana que apoiam o regime continuam obstruindo a formação do Comitê” encarregado de dotar a Síria de uma nova Constituição.

A ideia deste Comitê surgiu em janeiro de 2018 durante a cúpula de três países garantes do processo de paz de Astana em Sochi, Rússia.

Mas o Comitê não foi instalado devido a um desacordo com o regime de Damasco sobre sua composição.

– Retorno de refugiados é “impossível” –

“O processo político está paralisado”, lamentou o chefe da oposição no exílio, e defendeu uma “complementaridade dos esforços internacionais e não a concorrência” entre potências envolvidas no conflito, com vistas a uma solução política “sob a égide das Nações Unidas em Genebra”.

“Sem solução política”, o regresso dos refugiados ou a reconstrução da Síria são “impossíveis”, reiterou Hariri.

“Os países do mundo livre não darão dinheiro a um regime criminoso para que reabilite as infraestruturas que destruiu”, acrescentou, referindo-se aos países ocidentais.

A missão do novo emissário da ONU ocorre em um contexto militar favorável ao regime de Bashar al-Assad, que controla agora dois terços da Síria, após várias conquistas territoriais em detrimento dos jihadistas.

Coincide também com o restabelecimento das relações de países árabes, como Emirados Árabes Unidos e Bahrein, com o regime sírio.

Os combates continuam no país, sobretudo no leste da fronteira com o Iraque, onde se recolheram os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Os Estados Unidos, que lideram uma coalizão militar antijihadista, anunciaram que retirarão seus soldados (cerca de 2.000) da Síria, sem informar um calendário preciso.