No crepúsculo de 2016, quando a economia brasileira ainda chafurdava num lamaçal de crises (fiscal, política e ética), os analistas do mercado financeiro projetavam um cenário um pouco mais alentador adiante. O PIB, em 2017, voltaria a crescer 0,5%, após dois anos seguidos de recessão. Nada brilhante, mas um sopro de esperança. A inflação, bem mais comportada, ficaria próxima do centro da meta de 4,5% e o dólar, num ambiente mais calmo, tenderia a se desvalorizar frente ao real, num patamar abaixo dos R$ 3,50.

A premissa principal destas estimativas era o fortalecimento político do governo Michel Temer, cuja agenda reformista é aplaudida por investidores nacionais e estrangeiros. Naquele momento, devemos lembrar, a PEC dos gastos públicos acabara de ser aprovada, gerando euforia no mercado financeiro. Encerrado o 1º trimestre de 2017, a avaliação é relativamente positiva. A atividade econômica ainda patina e o desemprego continua subindo, mas a sensação térmica do ambiente de negócios vem melhorando – os índices de confiança de empresários e consumidores atestam isso.

A inflação e o dólar desabaram, dois ingredientes fundamentais para o Banco Central (BC) preparar a receita do apetitoso bolo sabor juros baixos com farta cobertura de crédito. Embora tenha acertado no fermento, o BC já deveria ter elevado um pouco mais a temperatura do forno (leia reportagem sobre a queda dos juros). Afinal de contas, o setor privado aguarda ansiosamente sua fatia. Apesar do otimismo moderado reinante no mercado, os investidores mais atentos jamais ignoraram a existência de dois grandes riscos ao cenário até então traçado.

No âmbito internacional, o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, tem sido uma ameaça constante ao crescimento global. Quem garante que o empresário-político de rosto laranja não vai lançar um míssil contra a Coreia do Norte e desencadear uma nova guerra mundial? O impacto seria desastroso para o mundo, ceifando o PIB de nações ricas e emergentes. Somente o sentimento pacifista da maioria dos terráqueos pode explicar por que esse tipo de risco costuma ser subestimado nas projeções econômicas. Em última análise, acaba sendo mais torcida ou fé do que análise geopolítica.

Enquanto isso, no nosso quintal, os desdobramentos da Operação Lava Jato continuam assombrando os políticos e paralisando o Congresso Nacional. O estresse galgou patamares alarmantes nos últimos dias após a divulgação da lista do Fachin (leia reportagem aqui). Se a tarefa de aprovar as reformas impopulares já seria hercúlea em tempos de calmaria, imagine, agora, com os parlamentares amedrontados. É precipitado afirmar que o jogo das reformas está perdido. Reconheço que, nesse caso, também pode ser mais torcida ou fé do que análise política.

Em novembro de 2015, o empresário Abilio Diniz afirmou, a uma plateia de estrangeiros, em Nova York, que o Brasil estava em liquidação, com ativos baratos. Naquela ocasião, escrevi um artigo neste espaço concordando com ele. Desde então, a economia nacional evoluiu, sem deixar de ofertar pechinchas atraentes. É fato, no entanto, que, nos últimos dias, aumentou o risco de comprar o “Brasil em liquidação”. Mesmo assim, eu ainda compro. E você?