A paranaense Positivo Tecnologia, a maior fabricante nacional de computadores e smartphones, não viveu dias de sombra e água fresca nos últimos anos. O aumento da concorrência, o Custo Brasil e a explosão de marcas chinesas no mercado nacional levou o grupo a um prejuízo inédito de quase R$ 80 milhões em 2015. Mas a reprogramação gradual do modelo de negócio da companhia, pilotada pelo fundador e CEO Hélio Bruck Rotenberg, fez com que a empresa virasse o jogo. Com ajuda da pandemia e do home office, a empresa prevê encerrar 2021 com receita de cerca de R$ 4 bilhões (o balanço consolidado será divulgado na próxima semana), 60% acima dos R$ 2,5 bilhões de 2020. “Além do forte crescimento de nossos negócios originais, de computadores e smartphones, disparamos em novas frentes, como internet das coisas, no segmento de servidores, locação de computadores e em prestação de serviços de manutenção para todas as marcas, não apenas para os equipamentos da positivo”, afirmou o CEO.

É nessa divisão de suporte multimarcas que o empresário sustenta sua convicção de mais expansão em 2022. Batizada de Positivo Tech Services, a nova unidade da empresa vai se dedicar a suporte avançado a governos e empresas – desde a Petrobras até repartições públicas e escolas. “O resumo de nosso plano de negócios é a diversificação”, disse Rotenberg. “O futuro da tecnologia não está em um determinado produto ou serviço, mas na complementariedade de todos eles”, afirmou. Todos estes serviços, segundo o empresário, serão realizados presencialmente ou de forma remota por profissionais técnicos especializados, em mais de 5 mil municípios e com uma estrutura de laboratórios e centros de reparo em todos os estados e no Distrito Federal.

POTENCIAL A decisão de acelerar suas operações em serviços se justifica pelos números do segmento e pelo potencial de expansão. Nas contas da International Data Corporation (IDC), a demanda por suporte movimenta R$ 4 bilhões por ano no País, equivalente a tudo que a Positivo vendeu em 2021. Por isso, a empresa deslocou um contingente de mais de 500 funcionários diretos, além do apoio de outros 1,5 mil profissionais terceirizados e especialistas contratados para suprir a demanda pelo serviço de suporte.

Entre os clientes já atendidos estão grandes instituições públicas e companhias robustas de segmentos distintos com parque tecnológico composto por milhares de equipamentos, como a Caixa, Banco do Brasil, Correios, Petrobras, IBGE, Prodesp, Cielo e Usiminas. As empresas recebem serviços de instalação, manutenção, logística reversa, descarte sustentável e suporte a hardware, como notebook, desktops, periféricos, celulares e estações de apoio.

SUPRIMENTOS As vendas da Positivo foram positivas, mas poderiam ter sido ainda melhores, segundo Rotenberg. Isso porque as fábricas da empresa em Curitiba, Ilhéus (BA) e Manaus sofreram com a escassez de componentes importados da China. A pandemia desorganizou a cadeia global de suprimentos, encareceu o frete marítimo e gerou desabastecimento de alguns itens, como semicondutores – o mesmo problema que tem feito gigantes do setor automotivo, como Toyota e GM, pararem suas linhas de produção temporariamente. “Só não vendemos mais porque não tínhamos peças suficientes para garantir a explosão da demanda durante o isolamento social e o home office”, afirmou o empresário. “Mas, ao que tudo indica, as coisas começarão a se reacomodar nos próximos meses, apesar das incertezas geradas pela guerra na Ucrânia”, disse.

60% foi o crescimento da receita da positivo em 2021, com vendas de cerca de R$ 4 bilhões. em 2022, os negócios serão puxados pela assistência multimarcas

Pelo otimismo do empresário, pandemia, guerra, trabalho híbrido e eventuais riscos de falta de peças já estão computados no plano estratégico da companhia. Com faturamento recorde e diversificação, o pensamento positivo de Rotenberg nunca fez tanto sentido com o nome da companhia.