O primeiro trimestre de 2019 foi marcado por um leve aumento no emprego de mulheres no Brasil, de 0,1%. Porém, o número positivo esconde uma realidade perversa no Brasil. Segundo estudo dos microdados da PNAD contínua – levantamento de curto, médio e longo prazo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desenvolvimento socioeconômico no Brasil – feito pela Faculdade de Campinas (Facamp), mostrou que aumentou-se o número de mulheres subocupadas no País.

A subocupação é definida quando uma pessoa apta e com vontade de trabalhar não consegue desempenhar funções profissionais por mais de 40 horas semanais. Segundo o estudo, o número de mulheres que ocupam empregos precários no Brasil subiu de 8,2% para 8,9% e. O número é 8,7% maior que o patamar de homens na mesma situação.

Em camadas mais precárias do mercado de trabalho, as mulheres voltam a representar a maioria, principalmente nas categorias que demonstram a subutilização da força de trabalho: pessoas subocupadas (53,1%), desocupadas (52,6%) e na Força de Trabalho Potencial (FTP) (58,9%). Além disto, as mulheres se aproximam de um terço das pessoas fora da FTP (65,5%) e das pessoas indisponíveis para o trabalho (66,2%). No total de subutilização da força de trabalho, que alcançou 28,3 milhões de pessoas no primeiro trimestre, as mulheres compuseram a maioria (54,5%).

Diante deste cenário, a professora da Facamp e doutora em economia Daniela Salomão Gorayeb diz que dois fatores podem explicar o fenômeno. O primeiro afeta mulheres de boa formação que perderam seus empregos, e que diante da dificuldade de conseguirem se realocar em empregos com as mesmas faixas salariais anteriores, passam a atuar por conta própria em funções de tempo parcial, por hora ou sob demanda. O outro fator afeta mulheres de baixa qualificação, que em cenário de escassez de emprego aceitam trabalhos precários, como serviço doméstico. “Vale mencionar que 72% das empregadas domésticas não possuem registro trabalhista e estão descobertas dos benefícios previdenciários”, diz Daniela.

Ela lembra também do impacto da reforma trabalhista na questão, destacando que as mudanças aceleraram o processo de precarização, que trouxe um efeito cascata para o mercado de trabalho. “É uma cadeia de acontecimentos ruins: diminuem os rendimentos, diminui a contribuição social e diminui a cobertura previdenciária para vários tipos de situações, inclusive aquelas em que as mulheres são mais vulneráveis, como a maternidade.”