O Facebook tomou decisões “problemáticas” e “dolorosas” sobre os Direitos Civis, em particular em relação às publicações do presidente americano, Donald Trump, concluiu uma auditoria independente contratada pela maior rede social do mundo.

Em maio, quando Trump publicou mensagens que poderiam desencorajar o voto ou incitar a violência contra cidadãos que se manifestavam contra o racismo, a rede social as manteve como foram publicadas, argumentando que elas não violavam suas regras.

No entanto, as postagens “claramente violaram” as políticas de uso do Facebook, disseram os autores do relatório, que afirmam ter “expressamente” apresentado essas observações ao grupo.

Tomadas a partir do mais alto nível, essas decisões “revelaram uma grande falta de entendimento e cumprimento dos Direitos Civis pelo Facebook”.

O grupo “não procurou conhecer a experiência de especialistas em direitos civis e aplicá-la como deveria”, argumentaram.

O Twitter, por sua vez, optou por ocultar os tuítes de Trump que continham as mesmas mensagens – embora sem realmente excluí-las – ao mesmo tempo em que avisou os usuários que elas violavam suas regras de uso.

– Esforços insuficientes –

A rede social deu “uma série de passos positivos e consistentes” contra a intolerância ou falsificação dos resultados eleitorais, segundo o relatório, encomendado há dois anos pelo Facebook.

Porém, o documento indicou que os esforços foram insuficientes.

“Neste ponto da história, os auditores estão preocupados com o fato de esses avanços serem ofuscados pelas decisões problemáticas e dolorosas que o Facebook tomou, representando grande retrocesso para os Direitos Civis”, observou o relatório.

“Infelizmente, em nossa opinião, a abordagem do Facebook em relação aos Direitos Civis permanece muito reativa e fragmentária”, acrescentaram os autores, sob liderança de uma ex-membro da poderosa associação de Direitos Civis da ACLU, Laura Murphy, e uma equipe de advogados da Relman Colfax, supervisionada por Megan Cacace.

“Muitos membros da comunidade dos Direitos Civis ficam tristes, frustrados e irritados depois de anos pedindo à empresa que faça mais para promover a igualdade e combater a discriminação, preservando a liberdade de expressão”, ressaltou o documento.

Atualmente, várias organizações dos Direitos Civis estão pressionando o Facebook a agir de forma mais ativa contra o conteúdo que incentiva a discriminação, ódio e o preconceito, em um período em que os Estados Unidos acabam de ser palco de massivos protestos contra o racismo e violência policial.

As empresas e associações que pediram um boicote publicitário à rede social disseram na última terça que ficaram “decepcionadas” depois de se encontrar com o fundador e CEO do grupo, Mark Zuckerberg, e a número dois, Sheryl Sandberg.

– Um início –

O relatório divulgado nesta quarta recomendou, entre outras coisas, que essa rede social crie estruturas mais fortes especificamente dedicadas aos Direitos Civis, com especialistas em questões cruciais como eleições e discursos de ódio, tudo sob a liderança de um “vice-presidente encarregado dos Direitos Civis” dentro da empresa.

O documento também pede que o Facebook faça uma interpretação mais rigorosa de suas políticas destinadas a impedir a circulação de mensagens que poderiam influenciar nos resultados eleitorais, como a de Trump, na qual ele questionava se o voto por correio era confiável.

O Facebook não dedicou recursos suficientes ou reagiu de forma rápida o suficiente em relação a todos os desafios apresentados na questão dos Direitos Civis em sua rede, afirmou a auditoria.

Esse trabalho começou sob pressão de organizações dos Direitos Civis e parlamentares para garantir que “as leis e os princípios dos Direitos Civis sejam respeitados, reconhecidos e profundamente integrados ao trabalho do Facebook”.

O grupo, em uma postagem em formato de blog, ressaltou que o relatório destacava progressos e lacunas, e reconheceu que precisa-se fazer algo para além disso.

“Esse trabalho de dois anos teve um impacto profundo em como vemos nossa influência no mundo”, escreveu Sandberg, diretora de Operações do grupo.

Este relatório é apenas o começo. “Temos feito progressos reais ao longo dos anos, mas esse trabalho nunca acaba e sabemos que o Facebook deve melhorar a maneira como a rede identifica e remove o conteúdo de ódio”, disse ela.

O grupo implementará algumas das recomendações do relatório e garantiu o compromisso com a ideia de contratar um especialista em Direitos Civis “que continuará a nos orientar sobre essas questões internamente”, finalizou Sheryl Sandberg.