Um áudio de Júlia Lotufo, viúva do ex-policial militar Adriano da Nóbrega, divulgado nesta sexta-feira (8), acusa o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de manter a ex-mulher do PM, Danielle Mendonça da Nóbrega, como funcionária fantasma em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo a Folha de São Paulo, que teve acesso à gravação, a conversa telefônica foi gravada há quase três anos.

“Ela foi nomeada por 11 anos. Onze anos levando dinheiro, R$ 10 mil por mês para o bolso dela. Agora ela não quer que ninguém fale no nome dela? Bateram na casa dela porque a funcionária fantasma era ela, não era eu”, diz Lotufo.

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Este foi o segundo áudio ligado ao assassinato de Adriano pelas polícias civis da Bahia e do Rio de Janeiro em fevereiro de 2020 divulgado a partir da Operação Gárgula. No primeiro, tornado público nesta quinta (7), a irmã do acusado de liderar a milícia Escritório do Crime, Daniela da Nóbrega, afirma que o Palácio do Planalto ofereceu cargos comissionados em troca da morte de Adriano.

“Ele falou para mim que não se entregava porque iam matar ele (sic) lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar e quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida. Eu vi meu irmão tentando se matar. Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Ele já sabia disso. Foi um complô”, diz Daniela em áudio obtido pela Polícia Civil fluminense há dois anos.

Adriano era investigado no inquérito que apura o assassinato de Marielle Franco no Rio de Janeiro e suspeito de envolvimento no suposto esquema de “rachadinha”, em que funcionários devolvem parte de seus salários ao político. No último dia 14 de março, as mortes de Marielle e do motorista Anderson Gomes completam 4 anos sem conclusão sobre os mandantes do crime.

Este intervalo de tempo foi marcado pela troca no comando das investigações, com três grupos diferentes de promotores à frente do caso no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Na Polícia Civil, o quinto delegado assumiu o caso há pouco mais de um mês.

O MPRJ denunciou Ronnie Lessa e Élcio Queiroz como os assassinos de Marielle – ambos irão a júri popular em data ainda não marcada. Lessa, vizinho do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em um condomínio na Barra da Tijuca, nega o crime e o atribui a Adriano da Nóbrega.

Tanto a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, como sua irmã, Daniela, foram nomeadas a cargos comissionados no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

A assessoria do atual senador nega as acusações de “rachadinha” e de empregar “funcionários fantasmas”. Por 3 votos a 1, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou provas colhidas pelo MPRJ no inquérito das “rachadinhas” que tem Flávio como alvo.

A reação de Bolsonaro

Em sua live semanal às quintas-feiras, Bolsonaro rebateu o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), que disse que o áudio de Daniela leva o assassinato de Adriano para dentro do Palácio do Planalto. “É público que o miliciano tinha relações íntimas com a família Bolsonaro e a hipótese de queima de arquivo sempre esteve à mesa”.

“Alguém me aponte um motivo que eu poderia ter para matar Marielle Franco. Motivo nenhum, zero, não dá nem para discutir mais. Os áudios dela [da irmã de Adriano], pelo que tomei conhecimento, ela se equivocou: em vez de falar Palácio das Laranjeiras, falou Palácio do Planalto”, declarou o presidente em transmissão em suas redes sociais.

Contudo, Silva referia-se ao assassinato de Adriano, não de Marielle. Em resposta à declaração do presidente, o parlamentar disse que “Bolsonaro se entrega em ato falho! O próprio Bolsonaro se colocou na cena do crime. Eu não relacionei os áudios sobre o assassinato do PM Adriano Nóbrega com a Marielle”.

Marielle Franco, então vereadora (PSOL-RJ), investigava a atuação das milícias no Rio de Janeiro, mais especificamente a grilagem de terras na Zona Oeste da capital fluminense, quando foi assassinada.