Após um ano e meio de máquinas paradas e luzes apagadas, a Audi do Brasil anunciou na quarta-feira (29) investimento de R$ 100 milhões na retomada da produção na fábrica de São José dos Pinhais, que mantém em sociedade com a Volkswagen, sua controladora. As operações na unidade brasileira, no Paraná, estavam suspensas desde o fim de 2020, ao término da fabricação do A3 Sedan. “É um dia histórico. Um momento em que retomamos com força máxima a nossa produção local”, afirmou Daniel Rojas, presidente e CEO da companhia no Brasil. “A Audi sempre acreditou no potencial de crescimento e recuperação do País.”

O montante foi investido na modernização da linha de montagem, que ganhou novos maquinários, ferramentais, equipamentos de controle de qualidade e sistemas de tecnologia da informação, além de infraestrutura logística. O valor se soma a outros R$ 446 milhões já aplicados pela marca na unidade brasileira desde 2012, quando o governo federal instituiu o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto).

A Audi tem como meta produzir 4 mil unidades por ano das novas configurações dos SUVs Q3 e Q3 Sportback. No entanto, devido à crise global no fornecimento de componentes eletrônicos, que tem provocado a paralisação das linhas de montagem nas montadoras pelo mundo, o volume não deve chegar à metade este ano. “Em 2022 deveremos produzir algo em torno de 1,5 mil unidades”, disse o chileno, que assumiu o cargo em fevereiro, mas já trabalha nas operações brasileiras desde 2019.

446 milhões de reais já haviam sido investidos pela marca no Brasil nos últimos dez anos

A montadora também vive a expectativa de gerar 200 empregos após a retomada total das atividades no Paraná. Até o momento, 30% desse contingente já trabalha em seis das dez estações da Audi no complexo fabril, onde divide espaço com a linha de produção do T-Cross, da Volkswagen. Apesar de ocuparem o mesmo ambiente, as marcas têm operações distintas.

Além do investimento de R$ 100 milhões na fábrica, Rojas anunciou aporte de R$ 20 milhões em infraestrutura de carregadores para carros eletrificados. Serão instalados 42 pontos de recarga rápida em concessionárias da marca até meados de 2023. Os conectores serão compatíveis com veículos de outras bandeiras. Atualmente, a Audi comercializa três modelos de carros 100% elétricos
no Brasil: e-tron, e-tron Sportback e RS e-tron GT, com preços entre R$ 625 mil e R$ 1,2 milhão.

ELIMINAR A aposta no segmento no País segue em linha com o plano mundial da Audi. Na semana passada, o CEO global Markus Duesmann anunciou que, a partir de 2026, a bandeira irá produzir apenas modelos híbridos e 100% elétricos em todo o planeta. Simultaneamente, buscará, até 2033, eliminar os veículos com motores a combustão. No Brasil Rojas afirmou que existe a possibilidade de a Audi produzir outro modelo na planta paranaense, que poderá ser um híbrido flex, desde que a demanda seja suficiente para uma produção em volume.

A fabricação dos novos Q3, ainda com motor a combustão, será feita em regime conhecido como Semi Knock Down (SKD), em que a Audi finaliza a montagem dos carros a partir de kits de peças pré-montadas na planta de Györ, na Hungria. Apesar disso, o modelo é nacionalizado com a colocação do número do chassi e de selos regulatórios. A operação se tornou viável, segundo Rojas, porque a marca obteve junto ao Ministério da Economia regime especial de tributação para projetos de baixo volume, de até 4 mil carros por ano, pagando alíquota de 18% para importar as partes semidesmontadas dos automóveis, contra 35% despendidos anteriormente.

A ESTRELA Desde o seu lançamento, em fevereiro de 2020, o Audi Q3 virou referência em seu segmento e se tornou o veículo mais vendido da marca no País já em seu primeiro ano, com 2,1 mil unidades. Em 2021 foram 2 mil, ou 30% do total de 6,2 mil carros comercializados pela montadora no geral. A retomada da produção é também uma aposta da empresa para ampliar os negócios e reduzir a diferença para as líderes na categoria premium no Brasil. A Audi fechou o ano passado na quarta colocação, atrás da líder BMW (14,5 mil vendas), da Volvo (8,2 mil) e da Mercedes (7,1 mil), segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Prova de que precisará acelerar para conquistar mais espaço no mercado.