Olhar para uma corporação como a Basf, que tem 156 anos de vida, sendo 110 apenas de Brasil, talvez gere uma falsa impressão sobre o segredo do sucesso e da longevidade. “We create chemistry”, slogan da empresa, é parte da resposta. A outra parte, e ainda mais decisiva, é o cliente. “Posso afirmar que o principal desafio no curto, médio e longo prazo para qualquer empresa será manter suas operações focadas nas necessidades dos clientes”, disse à DINHEIRO Manfredo Rübens, CEO para a América do Sul. Nascido em Buenos Aires, ele ocupa o cargo desde maio de 2018, mas está na Basf há 30 anos. Formado em administração na Alemanha, ingressou na companhia na área financeira, onde fez carreira.

O difícil ano de 2020, quando as vendas globais somaram 59,1 bilhões de euros (pequena variação negativa de 0,3% em relação a 2019) e o Ebitda caiu 20,7%, para 6,5 bilhões de euros, parece literalmente ter ficado para trás. No primeiro semestre deste ano, a empresa fez receitas de 39,1 bilhões de euros (33% acima do mesmo período de 2020, com perspectiva de fechar dezembro entre 74 bilhões e 77 bilhões de euros) e o Ebitda bateu em 6,4 bilhões de euros (crescimento de 82%). Resultados construídos a partir do aprendizado do primeiro ano da pandemia. “Desde o início de 2020, o bem-estar dos colaboradores e o abastecimento dos clientes foram as maiores prioridades”, disse Rübens. “Mantivemos os clientes no centro da nossa estratégia.” Essa obsessão pelo cliente é ao mesmo tempo causa e consequência da visão de longo prazo da empresa. E foi decisiva nos problemas da temporada 2020. “Um dos maiores desafios foi assegurar a robustez na cadeia de suprimentos.”

Nesse cenário, o Brasil tem papel decisivo. O País é um mercado prioritário para a empresa na América do Sul, já que responde por 74% dos negócios na região. Somente a Divisão de Soluções para Agricultura responde por cerca de 45% do portfólio de negócios na América do Sul. “Nos últimos quatro anos, passamos a produzir 40 novos produtos no Brasil, entre itens nacionalizados, com tecnologias trazidas de Alemanha e Estados Unidos, ou desenvolvimentos nacionais, criados nos laboratórios de P&D do Brasil.” Uma dessas linhas, a Soluprat, que oferece formulações concentradas e é voltada a fabricantes de produtos de limpeza e de cuidados pessoais, já tem sua tecnologia exportada para operações da Basf em outros países.

MANFREDO RÜBENS EMPRESA: BASF. CARGO: CEO América do Sul. DESTAQUE DA GESTÃO: Comandar a operação no continente, em que o Brasil responde por 74% das receitas, com inovações desenvolvidas no país. (Crédito:Divulgação)

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o Brasil é o sexto maior mercado do setor em faturamento e Rübens não acredita que os problemas macroeconômicos nacionais possam alterar drasticamente essa posição. “O segmento atua com estratégia de negócios de longo prazo”, afirmou. Para ele, mais grave são algumas questões de raízes profundas. Um estudo da Abiquim levantou os cinco fatores estruturais que favorecem o desenvolvimento da indústria química: Demanda Interna, Disponibilidade de Matéria-Prima Local, Competitividade de Custos, Infraestrutura e Custo de Capital & Investimento. “O Brasil possui apenas dois a favor: Demanda Interna e Disponibilidade de Matéria-Prima Local.”

Os fatores negativos superam os positivos e isso impacta a atratividade do Brasil para investimento estrangeiro. “O País está competindo com investimentos que podem ser direcionados a outros destinos”, disse. São cenários ameaçadores que independem das forças da Basf. Algo que tire o sono de Rübens? Não. Com a tranquilidade de liderar um gigante corporativo que tem mais de século e meio de vida, nos momentos de tempestade ele comanda a operação sul-americana seguindo o mesmo lema. “Seguir firme no nosso propósito de criar química para um futuro sustentável, inovando e buscando oportunidades a cada dia para gerar valor”, afirmou. “Para nossos clientes e para a sociedade.”