Mesmo sob pressão do agronegócio, o novo presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, mantém a posição de que o “grosso da atividade rural” pode se financiar a taxas de mercado. Da carteira de R$ 188 bilhões de crédito rural do BB, 46% foram desembolsados com subsídios do Tesouro Nacional. Em 2018, a União bancou R$ 5 bilhões de diferença entre o juro cobrado pelo BB e o custo da captação.

Novaes disse que a estratégia do banco é reduzir as operações de financiamento a grandes empresas e focar pessoas físicas e pequenas empresas. “Temos vantagens comparativas e encontramos um maior retorno”, afirma. Ele também disse que há espaço para cortes de custos na instituição, mas disse que não vê nenhum corte “dramático” de funcionários no “futuro próximo previsível”.

O executivo prometeu a “maximização” do retorno aos acionistas, vender o que não for atividade principal do banco e buscar parcerias. “Não somos os melhores em tudo e convém buscar sociedades quando parceiros suprem deficiências nossas”, afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como se dará a redução dos subsídios do BB à agricultura?

A questão depende de orientação do Ministério da Economia. Percebemos a intenção de reduzir os subsídios no crédito agrícola e estimular o uso de seguros. Com a redução da taxa básica de juros, o panorama mudou. O grosso da atividade rural pode se financiar em condições próximas às de mercado.

Apesar da queda da taxa básica, os juros de mercado ainda não estão muito altos?

Em relação ao crédito rural, não. De uma maneira geral, para o tomador final, é alta. Mas no crédito rural, não é o caso.

Como reduzir os juros para a população?

A taxa de juros depende basicamente de duas coisas: da pressão do governo sobre o mercado de crédito e da concorrência bancária. O caminho para baixar juros de uma maneira geral é ter menos dívida pública e mais competição entre as instituições financeiras. Nesse sentido, o Ministério da Economia está trabalhando na direção de menor endividamento público e o Banco Central está trabalhando na direção do estímulo à concorrência bancária.

Nos últimos governos houve uma pressão dos presidentes para reduzir os juros na marra…

Nenhuma autoridade consegue derrubar as leis da oferta e da procura sem sofrer consequências. O governo pode fazer algumas coisas na microeconomia, como o cadastro positivo e redução de compulsórios e impostos.

Há ingerência do governo sobre o banco?

Acabou esta prática. Tive liberdade total para montar equipe. A correta arrumação do tabuleiro é tarefa fundamental na organização de uma empresa do tamanho do Banco do Brasil. Todas as pessoas foram convidadas para a equipe unicamente em função de suas competências. Em alguns poucos setores, achei que era necessário trazer gente de fora. Mas percebi que, para o benefício do banco, o melhor caminho era manter a maior parte do Conselho Diretor no posto, mudando apenas alguns vice-presidentes de área.

O sr. disse que não venderá ‘joias da coroa’, mas que está disposto a analisar parcerias. Como isso vai ocorrer?

São passíveis de desinvestimento as atividades que não guardem sinergia com o core business (atividade principal) do banco. Quanto às ditas “joias da coroa”, o que se pretende fazer é destampar valores através de operações de mercado de capitais e/ou parcerias que façam sentido operacional. Não somos os melhores em tudo e convém buscar sociedades quando parceiros suprem deficiências nossas. Da mesma forma, aberturas de capital podem dar transparência e melhorar a governança em certas atividades. Mas não está nos nossos planos a venda de qualquer joia da coroa, assim entendidas as atividades de asset management (administração de recursos de terceiros), banco de investimento, meios de pagamento e seguridade.

O banco precisa de mais injeções de capital do Tesouro?

Temos um capital adequado à estratégia que definimos para o crédito. Em linha geral, vamos reduzir a velocidade do atacado para incrementar o varejo, onde temos vantagens comparativas e encontramos um maior retorno.

O BB está preparado para lidar com o aumento da concorrência bancária?

O futuro presidente do BC (Roberto Campos Neto) é um entusiasta da modernização do sistema bancário, entendendo que daí sairá um ambiente de maior competição e benefícios para a clientela. No novo mundo da digitalização, do open banking (que reúne os dados do cliente em um só ambiente) e das fintechs (startups da área financeira), estará bem posicionado quem se preparar da maneira correta para retirar vantagens das novidades.

Há espaço para enxugamento de pessoal?

A tendência por mais digitalização e por menos ida dos clientes às agências é inexorável. Custo é como unha: é preciso cortar constantemente. Continuaremos a tendência das últimas administrações, mas sem nada dramático no futuro próximo previsível.

Como ficam os patrocínios?

Uma empresa como a nossa, que tem concorrentes agressivos em suas campanhas de marketing e patrocínios, não pode deixar de divulgar a marca e os produtos. Pretendemos que a política para a área seja absolutamente coerente com o objetivo de maximização de resultados. Ou seja, toda ação será subordinada a uma análise de custo e benefício. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.