O ano de 2018 começou aquecido para o mercado de aberturas de capital. Apenas nos últimos dias de fevereiro, cinco empresas protocolaram, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), intenção de estrear na bolsa. Conhecidos como Initial Public Offering (IPO, na sigla em inglês), esses processos, somados a outros três que começaram nos últimos meses, podem levantar R$ 9,4 bilhões na primeira metade deste ano. Considerando-se apenas os IPOs, esse resultado colocaria 2018 como o terceiro melhor ano da década (observe o gráfico ao final da reportagem).

Loja da Ri Happy, em São Paulo: abertura de capital será indicador da demanda dos investidores por ações de empresas brasileiras em 2018 (Crédito:Divulgação)

É muito dinheiro. Quem conhece a temperatura do mercado avalia que os quase R$ 10 bilhões podem ser pouco. Dependendo do que as urnas apontarem, a soma dos IPOs com as ofertas adicionais de empresas já listadas em bolsa (chamadas follow-ons), pode ser um número histórico. “Se os eleitores preferirem um candidato alinhado com a estabilidade fiscal, poderemos ver um total de operações de até R$ 40 bilhões”, diz Leandro Miranda, diretor-gerente do banco de investimentos Bradesco BBI. “Teremos dois anos em um.”

Outros profissionais do mercado avaliam que, no mais otimista dos cenários, o número de estreantes na Bolsa pode chegar a 12. Ainda está longe das 26 empresas que abriram o capital em 2006 e do recorde de 64 companhias de 2007. Será, no entanto, o terceiro melhor resultado desde a retomada da bolsa, em 2003. Esse desempenho confirma o amadurecimento do mercado. Em anos de eleição presidencial, os bancos de investimento internacionais costumam desacelerar seus negócios no início do segundo semestre, à espera do veredicto das urnas. “O mercado só volta a olhar para o Brasil no fim do ano, quando o resultado das urnas é conhecido ou mais previsível”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da corretora Magliano. Em 2018, porém, o retorno pode ocorrer mais cedo.

Leandro Miranda, diretor-gerente do Bradesco BBI: “Se os eleitores preferirem um candidato alinhado com a estabilidade fiscal, poderemos ver um total de operações de até R$ 40 bilhões” (Crédito:Divulgação)

Há dois motivos para essa mudança. O primeiro é internacional. Apesar de os juros nos Estados Unidos estarem começando a subir, eles ainda estão muito baixos – a taxa dos títulos de dez anos do Tesouro americano estava em 2,8% ao ano na quinta-feira, 1º- de março. Ao mesmo tempo, a inflação começa a dar sinais de alta por lá. Em janeiro, o índice de preços ao consumidor avançou 0,5%, com uma alta de 2,1% em 12 meses. “Há pouco ganho nas aplicações de renda fixa, o que provocou uma migração maciça de recursos para a renda variável no ano passado”, diz Miranda, do Bradesco. “Isso incluiu os investidores em países emergentes.”

A segunda razão é local. Além da abundância de dinheiro lá fora, o aquecimento da economia brasileira, que cresceu 1% em 2017 (leia mais) deve trazer de volta os investimentos dos empresários. “Muitas companhias que falam conosco estão mais propensas a desengavetar seus planos de investimento”, diz Miranda. Discreto, ele não comenta nomes. Revela que os investidores internacionais, que dão a tônica do mercado, estão prestando mais atenção aos casos específicos do que a setores da economia. O IPO da rede de varejo Ri Happy, controlada pela gestora americana de fundos de private equity Carlyle, será um bom indicador do apetite dos investidores. É uma varejista importante, que faturou R$ 1,7 bilhão em 2017.

A empresa lidera o comércio de brinquedos, com 259 lojas dedicadas a eles. O lançamento poderá movimentar até R$ 1 bilhão, tanto na oferta primária (novas ações, que vão financiar a abertura de lojas) quanto a secundária (ações já existentes, pertencentes aos controladores). O fechamento do preço de oferta está agendado para o dia 22 de março. “Ele vai mostrar como está o apetite do mercado”, diz Eduardo Guimarães, especialista de ações da empresa de análise independente Levante. Procurada, a Ri Happy não comenta o assunto, por estar em período de silêncio antes do lançamento.

As boas perspectivas, porém, não significam vida fácil para quem pretende surfar nessa onda do mercado. “Há uma tendência de melhora da economia, mas os investidores estão extremamente seletivos”, diz Miranda. Os investidores têm feito contas e serão criteriosos ao comprar ações. Como resultado, as cotações das recém-chegadas podem demorar a subir. Prova disso são dois lançamentos que não ocorreram, o da farmacêutica Blau e o da holding energética NeoEnergia. Os compradores en potencial pediram um desconto elevado em relação ao preço de lançamento, tornando os IPOs inviáveis. Se tivessem conseguido chegar ao pregão, as ações muito provavelmente teriam um desempenho abaixo de seus pares. Por isso, a recomendação para os pequenos investidores é esperar alguns dias após o IPO para decidir pelo investimento na recém-chegada.