Ele tem nome alemão, porte de alemão, é filho de alemão e chefe de uma companhia alemã. Mas pergunte a qualquer um que conviva com Hermann Wever, o presidente da Siemens do Brasil, e a definição é uma só: ele é o mais brasileiro dos comandantes de multinacionais instaladas no País. ?Wever tem um invejável senso de brasilidade?, atesta o amigo Ingo Plöger, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha. A veia nacionalista costuma pulsar forte nas mesas de reunião na sede da empresa, em Munique. Mais de uma vez, Wever convenceu diretores mundiais a desviarem determinados projetos de outras filiais para a Siemens daqui. Foi assim, por exemplo, quando trouxe as primeiras turbinas geradoras para usinas hidrelétricas ao País ou quando bateu o pé e fez com que investimentos de US$ 700 milhões em telecomunicações fossem endereçados ao Brasil. Em outubro próximo, Hermann Wever, 65 anos, vai deixar a presidência da Siemens. Deve manter seu posto como membro do conselho mundial e pode assumir cargo parecido no Brasil. Não está definido quem terá a difícil missão de substituí-lo. Dizem, nos corredores da Siemens, que um executivo americano está sendo cotado para o lugar. Por aqui, concorrem Adilson Antônio Primo, responsável pela área industrial, e Aluizio Byrro, diretor de telecomunicações. ?Prefiro que seja um brasileiro?, diz Wever.

O presidente da Siemens, por normas da companhia, deveria ter abandonado o posto em 1996. Com exceção da matriz, altos executivos de todas as filiais são obrigados a deixar o cargo ao completarem 60 anos. Ciente disto, o presidente mundial, Heinrich Pierer, deu a Wever um assento no conselho, em Munique. Como executivo do board, Wever ganhou o direito de permanecer na presidência da filial brasileira por mais alguns anos. É que na sede, a idade para se ?retirar? é de 65 anos. Outra prova do prestígio do executivo será dada no dia 30 de outubro, data de seu afastamento. Pierer estará na solenidade. Não costuma fazer isso em outras subsidiárias.

A reverência ao maestro da filial não é à toa. Wever chegou a Siemens em 1980, vindo da General Electric, e em sete anos assumiu a presidência da companhia. Desde então comanda uma empresa de R$ 2,8 bilhões que atua em setores como telecom, transportes, energia, informática, medicina e iluminação. Durante o mandato de Wever, a Siemens quadruplicou de tamanho. ?Nossa carteira de pedidos neste ano deve chegar a R$ 5 bilhões?, comemora o executivo. No último dia 11, a Siemens anunciou o corte de 2 mil trabalhadores em todo o mundo. As demissões não vão atingir o Brasil. Pelo contrário. A filial pretende contratar 260 profissionais neste ano na área de telefonia celular. Ao escolher o padrão GSM para as bandas C, D e E, o governo abriu um campo enorme para as empresas européias. Valeu, e muito, o lobby de Siemens, Nokia e Alcatel para barrar os avanços de Motorola e Qualcomm, que queriam o padrão CDMA no sistema. ?Wever tomou a frente da campanha européia e nós conseguimos virar o jogo?, conta Yuri Sanchez, da área de telecom da Siemens. Aí está outra faceta do executivo: trafegar com a mesma desenvoltura nos corredores políticos e empresariais. ?Ele tem uma rede de contatos fantástica e sempre é chamado a dar a voz da indústria em debates federais?, diz Antônio Corrêa de Lacerda, economista-chefe da Siemens. ?É um pensador do Brasil.? O engenheiro Wever costuma dizer que é um economista frustrado. Chegou a escrever um livro de economia sem jamais ter freqüentado cursos. Fez de GE e Siemens suas escolas. E não poderia ter se saído melhor. Agora, vai deixar a presidência. Há quem garanta que a troca é mera formalidade. Wever jamais abandonará o leme.