A Etiópia lançou nesta segunda-feira (18) ataques aéreos contra a capital da região rebelde do Tigré, que resultaram na morte de pelo menos três pessoas, segundo fontes humanitárias e diplomáticas, informação que o governo chamou de “mentira total”.

Esta ofensiva marca o primeiro bombardeio conhecido na capital Tigré desde o início do conflito nesta região norte, há quase um ano. Mas aconteceram bombardeios em outras áreas da região insurgente.

Um responsável pelo Hospital Ayder, principal centro de saúde da cidade, Hayelom Kebede, relatou “três mortes”, segundo uma avaliação inicial e a chegada de “muitas vítimas”.

“Ataque aéreo agora em Mekele”, escreveu em uma mensagem de texto à AFP uma fonte de serviços humanitários que não revelou sua identidade. O ataque foi confirmado por outra fonte humanitária, duas diplomáticas e um porta-voz dos rebeldes.

O primeiro ataque aconteceu na periferia da cidade, perto de uma fábrica de cimento, de acordo com as fontes.

O segundo aconteceu perto do hotel Planet, antes utilizado pelos líderes da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que governava a região.

Getachew Reda, porta-voz da TPLF, afirmou no Twitter que as forças federais tiveram como alvos “civis dentro e fora de Mekele”.

“Nesta segunda-feira tem mercado em Mekele e a intenção está clara”, escreveu.

Contactado pela AFP, um oficial de comunicação do governo negou estas informações.

“Não há razão ou plano para atacar civis em Mekele, que faz parte da Etiópia, e onde vivem nossos próprios cidadãos. É uma mentira total”, disse à AFP Legesse Tulu, diretor do Serviço de Comunicação do Executivo do país africano.

– “Quebrar o cerco” –

As informações não foram comprovadas por fontes independentes até o momento. As autoridades etíopes não puderam ser contatadas para mais detalhes.

Em setembro, o governo alegou que os rebeldes sofreram “grandes perdas” e foram “derrotados” na região de Afar.

Por sua vez, a TPLF simplesmente alegou ter retirado as tropas da região para realocá-las em outras frentes, incluindo Amhara.

Os combates recomeçaram na semana passada em Afar e a TPLF parecia estar avançando na segunda-feira em direção à cidade de Dessie em Amhara, onde dezenas de milhares se refugiaram desde julho.

Um morador de Dessie disse à AFP que a cidade foi “inundada” por pessoas deslocadas de Wuchale, uma cidade mais ao norte.

No fim de semana, Getachew garantiu que as forças rebeldes haviam capturado Wuchale e as áreas vizinhas e reiterou que marchariam para Addis Abeba, se necessário.

“Se é isso que precisa ser feito para quebrar o cerco de Tigré, por que não?”, disse à AFP em mensagem de texto.

Até agora, o governo etíope e as forças militares fizeram poucos comentários sobre a recente escalada dos combates.

No entanto, um oficial militar de Amhara negou na segunda-feira à AFP que Wuchale está sob o controle da TPLF.

A guerra estremeceu as relações entre a Etiópia e seus parceiros ocidentais, especialmente os Estados Unidos, um aliado histórico.

Na semana passada, Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido pediram aos envolvidos que “parassem imediatamente com os abusos e iniciassem negociações para um cessar-fogo”.

Desde novembro, Tigré é cenário de combates entre as forças do governo etíope, lideradas pelo primeiro-ministro e Nobel da Paz Abiy Ahmed, e as tropas leais à TPLF.