Em um roteiro que tem surpreendido até os mais próximos interlocutores do governo, o Ministério da Economia empreendeu nos últimos dias o que vem sendo considerada a maior cruzada dos últimos tempos contra os trabalhadores brasileiros regidos pela CLT. O passo mais alarmante nesse sentido traz como princípio a revisão, para baixo, do valor do FGTS. A minuta da proposta prevê uma redução do depósito mensal de 8% para 2% e queda da multa paga de 40% para 20%. A flexibilização das regras nesse momento, para acomodar demandas empresariais, sob o manto da diminuição de encargos com o objetivo de ajudar na retomada, pode ser mais um balde de água fria nas pretensões eleitorais do mandatário Bolsonaro. Evidentemente, esse é um público do qual o capitão não pode prescindir nesse momento. Seu grande adversário na corrida presidencial, o petista Lula, preferido nessa camada da população, tem dito e prometido decisões justamente no caminho oposto, de revisão inclusive da reforma trabalhista posta em prática anos atrás. No caso da nova tungada prevista pelos assessores de Guedes, a própria justificativa de reduzir os custos dos empregadores na hora da contratação não tem se revertido em ampliação de vagas. Ao contrário. O desemprego persiste em índices altos e alarmantes e esse quadro tem gerado uma situação de grande número de insatisfeitos com o governo. O público de baixa renda e os necessitados não estão, efetivamente, sendo atendidos na exata medida pelas movimentações da ala técnica do governo. Por um lado, a revisão das regras do Fundo na atual circunstância pode gerar sim uma reação negativa acentuada, com reflexos sérios nas urnas. Guedes alega que o ajuste do FGTS, ao diminuir encargos, “remove a bomba de destruição em massa de empregos”. Não é bem assim e a realidade tem mostrado. No campo assistencial, o ventilado programa do Auxílio Emergencial parece ter emperrado. Grande ferramenta e vitrine de campanha de Bolsonaro, o benefício teve início com uma logística caótica. Entidades reclamam de enormes entraves na concessão e a lista de espera já soma mais de 1,3 milhão de famílias desassistidas — enquanto pipocam casos de irregularidades com apadrinhados do governo recebendo os recursos sem direito. O Planalto determinou, para variar, uma espécie de sigilo sob os números reais dos atendidos. Mentiu dizendo que havia zerado a fila de espera. Milhares de famílias em situação de rua, que deveriam ter prioridade, não conseguem acesso ao programa, segundo aponta a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), entidade que fez um estudo detalhado sobre o tema. Ao mascarar os fatos, o governo também represa os índices sobre a quantidade de famílias já habilitadas e que seguem esperando sem sucesso para receber os prometidos R$ 400. Mais de 150 especialistas e entidades que atuam na área, reunidos na Rede Brasileira de Renda Básica (RBRB), alertam que o atendimento social nos municípios, por conta dessa maquiagem dos dados oficiais, está sendo seriamente prejudicado. A pressão na ponta dos operadores que executam a tarefa é gigantesca, enquanto prevalece o descaso de cima. Ao menos nessas duas frentes, a tropa de Bolsonaro, Guedes & cia parece trabalhar diuturnamente para um ataque frontal contra a população de baixa renda.

Carlos José Marques Diretor editorial