Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – A assimetria nos preços dos ativos financeiros globais está virando para o lado negativo, com as recentes boas notícias já precificadas, enquanto o cenário para o real segue atrelado ao exterior num momento em que o mercado “está dando um desconto” aos recentes discursos de presidenciáveis em favor de aumento de gastos, disse Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total, principal fundo multimercado da Opportunity Asset.

Mollica citou o rali de quase 20% na bolsa norte-americana e o fluxo para países emergentes, que tiveram como pano de fundo otimismo em relação à política monetária norte-americana e à capacidade do banco central dos EUA de lidar com a alta dos preços.

“Acho que, apesar de todas as notícias boas que a gente teve, principalmente ali com o Fed e depois com o CPI melhor, acho que elas (as notícias) já estão bastante refletidas nos preços. Acho que a assimetria está virando para o lado negativo. Nosso portfólio devagar está tentando já se reposicionar para essa assimetria”, afirmou à Reuters o gestor da Opportunity Asset, casa que tem sob seu guarda-chuva quase 50 bilhões de reais.

Uma piora na assimetria do mercado costuma representar aumento de chance de queda nos preços.

O fundo gerido por Mollica está zerado em posições estruturais em câmbio, por exemplo, com o ativo negociado apenas de forma tática (no curtíssimo prazo).

“Não vemos muita assimetria (no preço da moeda), enquanto durar essa onda de otimismo lá fora… isso limita a depreciação do real, e estamos de olho no mercado internacional para eventualmente alterar posição”, afirmou, citando ainda que no Brasil o período eleitoral é evento para o qual tradicionalmente tem-se pouco hedge, o que força uma redução da exposição dos fundos ao mercado brasileiro.

Como um todo, o Opportunity Total tem posições tomadas na parte curta do juro norte-americano, compradas em dólar contra divisas do G10 e otimistas com o petróleo. Em ativos brasileiros, carrega “pequena posição” comprada em bolsa, na esteira do ânimo externo, e “alguma coisa” aplicada em juro até janeiro 2025.

“DESCONTO”

Para o gestor, apesar da presença cada vez maior do noticiário eleitoral doméstico nas manchetes, essa é uma parte do cenário com a qual “o mercado parece ainda não estar se preocupando”.

“O mercado está considerando o momento de disputa eleitoral acirrada e que agora é a hora das promessas”, disse Mollica.

“Acho que o mercado está dando um desconto, e isso vai ser uma preocupação mais para a frente. Acho que vai ser um questionamento que pode trazer pressão maior para o real se a conversa caminhar nos próximos meses na linha do que vem sendo dito.”

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