De Gaza ao Iêmen, retratos de Qassem Soleimani estão presentes em inúmeras manifestações, o que sinaliza que violenta morte pode torná-lo um ícone de resistência aos Estados Unidos.

O poderoso comandante iraniano, enterrado nesta quarta-feira (08), era considerado um “mártir vivo” para a República Islâmica por causa das suas façanhas militares e proezas estratégicas, que incluíram deter o grupo Estado Islâmico (EI) quando ele destruía o Iraque a Síria.

Soleimani esteve à frente das operações iranianas no Oriente Médio, sendo chefe das Forças Quds, da Guarda Revolucionária do Irã, dominando as milícias substitutas xiitas e alguns aliados sunitas, construindo uma carreira militar que fez o presidente americano Donald Trump chamá-lo de “monstro”.

Morto aos 62 anos, por um ataque de drones americanos em Bagdá, alguns pesquisadores dizem que a sua condição de mártir ficará mais forte, transformando-o em um símbolo para os diversos grupos pró-iranianos que ele chefiou e ajudou a desenvolver.

Soleimani era uma figura polarizada, inclusive dentro do seu próprio país. Cada uma das forças pró-iranianas tem os seus próprios planos e estratégias, mas a natureza dramática de sua morte poderia servir como um elemento unificador.

O chamado “eixo da resistência” iraniano, que se estende dos limites do Irã até o Mar Mediterrâneo, se “organizará para concentrar-se mais no seu objetivo final, que é a retirada dos Estados Unidos de grande parte do Oriente Médio”, disse à AFP Ellie Geranmayeh, analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

– Soleimani, o Che do Oriente Médio? –

Na última segunda-feira (06), a morte de Soleimani incentivou a população iraniana a sair às ruas do Teerã. No dia seguinte, uma tragédia ocorreu em Kerman, durante o cortejo fúnebre do general, com mais de 50 pessoas mortas após tumulto no local.

Nas redes sociais, apoiadores de Soleimani postaram ilustrações do comandante sendo recebido no céu. Em outras partes das comunidades xiitas muçulmanas, nas quais ele era muito respeitado por causa das agressões sunitas, a população demonstrou tristeza, raiva e obstinação.

“O sangue dos mártires não é somente iraniano ou iraquiano, mas pertence a toda comunidade muçulmana e aos homens livres de todo o mundo”, afirmou um funcionário de Sana, capital iemenita controlada pela milícia xiita apoiada pelo Irã.

Durante uma cerimônia ocorrida na Faixa de Gaza, Soleimani foi elogiado pelo movimento palestino Jihad Islâmica.

No Líbano, a sua imagem foi levantada ao longo de uma estrada que vai do aeroporto a vários bastiões do Hezbollah. Dentro do aeroporto de Beirute, mulheres vestidas de preto, que chegavam da cidade iraquiana de Najaf, carregavam o retrato do general enquanto caminhavam pela área de desembarque, falando em uníssono: “Morte aos Estados Unidos!”.

Soleimani era o comandante militar mais importante e influente do Eixo da Resistência.

“Ele investiu toda a sua vida em dissuadir os neoimperialistas da região”, comenta Lokman, um universitário libanês de 22 anos. “Acredito que a sua morte reavivou a consciência coletiva de dezenas de milhões de pessoas na região, impulsionando-as a levantar-se contra a opressão e exploração dos Estados Unidos e seus aliados”, ressalta.

Desde que morreu, Soleimani está sendo chamado de “Che Guevara do Oriente Médio” por muitos setores.

“A imagem que estão fazendo de Soleimani é de um guru de política externa, mártir e estrategista, algo longe do discurso de que era um terrorista e responsável pela morte de pessoas”, ressalta Sanam Vakil, da Chatham House, em Londres.

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