Um importante dirigente político sérvio de Kosovo, Oliver Ivanovic, foi morto a tiros nesta terça-feira (16) pela manhã na parte sérvia de Mitrovica – disseram à AFP seu colega de partido Ksenija Bozovic e seu advogado Nebojsa Vlajic.

Ivanovic, de 64, foi abatido às 8h15 (5h15, no horário de Brasília) por disparos efetuados de um automóvel, quando chegava à sede do partido, em uma casa particular de Mitrovica.

Líder de um partido socialdemocrata local, Ivanovic era considerado um político moderado nessa cidade que permanece dividida entre o norte, de maioria sérvia, e o sul, onde vivem os albaneses kosovares.

Mitrovica tem 85 mil habitantes e, na cidade, reina um ambiente tenso entre as comunidades sérvia (com 13 mil pessoas, no norte) e albanesa (com 72 mil no sul), duas décadas depois da guerra de 1998-99. Também há tensões internas do lado sérvio.

“Segundo o que me disseram, morreu na hora. A tentativa de reanimá-lo no hospital de Mitrovica fracassou”, disse à AFP o advogado Nebojsa Vlajic, relatando que seu cliente foi atingido por cinco disparos.

“Não sabemos quem pode estar por trás desse ataque, que foi cometido de um carro em movimento”, disse o procurador fiscal Shyqri Syla à AFP.

– Uma figura singular –

Oliver Ivanovic era uma figura singular da cena política local. Foi condenado a nove anos de prisão por crimes de guerra no conflito de 1998-99 entre forças sérvias e separatistas albanesas de Kosovo, mas sua pena foi anulada em fevereiro passado por um tribunal de Apelação. Saiu da prisão, mas seria julgado novamente.

Ivanovic também era um dos raros membros da política servo-kosovar que falava albanês e criticava a política de Belgrado em relação a Kosovo.

Embora não reconhecesse a independência de Kosovo, defendia o diálogo com as autoridades kosovares de Pristina.

Ivanovic entrou na política em junho de 1999 e, no momento de seu assassinato, era vereador de Mitrovica-norte.

Formado em Mecânica e em Economia e um exímio carateca, falava perfeitamente inglês e italiano. Interlocutor apreciado pelos ocidentais, era originário de Decani, no oeste de Kosovo, assim como o atual premiê de lá, o ex-líder guerrilheiro Ramush Haradinaj.

Detido em janeiro de 2014, sempre negou ser culpado de crimes de guerra ao incitar, em abril de 1999, paramilitares sérvios a matarem quatro civis kosovares, segundo o veredicto de primeira instância.

Em fevereiro, a corte de Apelação de Pristina explicou “não ter conseguido confirmar com certeza que Ivanovic estava a par dos crimes de guerra, ou que os tenha organizado, ou ordenado”.

A guerra entre forças sérvias e separatistas kosovares deixou 13 mil mortos – 11 mil kosovares albaneses e cerca de dois mil sérvios.

Em 2008, essa antiga província albanesa da Sérvia proclamou sua independência. Em 17 de fevereiro, celebrará seu 10º aniversário.

Com o apoio da Rússia na ONU, o governo de Belgrado e a minoria sérvia de Kosovo se recusam a reconhecer a existência de Kosovo.