O presidente sírio, Bashar al-Assad, que nega ter ordenado um ataque com armas químicas contra uma cidade rebelde, como acusa o Ocidente, está convencido de que pode vencer a guerra que devasta o seu país há seis anos.

Pária do Ocidente e do mundo árabe, conseguiu reverter a situação na guerra síria, com paciência e determinação, e graças a seus aliados russos e iranianos.

Com este apoio, não parece se impressionar com as ameaças dos Estados Unidos nem com o primeiro ataque americano, na semana passada, contra uma base aérea no centro do país.

“É o sofrimento do povo sírio que me tira o sono, de maneira nenhuma as ameaças ocidentais”, declarou na quarta-feira em uma entrevista exclusiva à AFP.

Guerra até a vitória

Apoiando-se em um Exército que se manteve fiel, apesar das enormes baixas em seis anos de conflito, e contando ainda com seus serviços de Inteligência e com uma parte da população aterrorizada pelos extremistas, Assad enfrenta uma oposição dividida, cujos “padrinhos” não quiseram se envolver militarmente.

“Para Assad, isso sempre foi um combate de vida ou morte. Nunca se questionou deter a guerra, fosse com a vitória, fosse com a derrota”, avaliou o ex-diplomata holandês Nikolaos van Dam, especialista em Síria.

“O regime tem meio século de experiência sobre como se manter no poder. Conta com o apoio do Exército e dos serviços de segurança”, disse o autor do livro “The Struggle for Power in Syria: Politics and Society Under Asad and the Ba’th Party” (“A luta pelo poder na Síria: política e sociedade em Assad e no Partido Baath”, em tradução livre).

Grande confiança em si mesmo

Tendo chegado ao poder em 2000, após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, que governou o país com mão de ferro por três décadas, Bashar, de 51 anos, enfrentou a revolta de março de 2011, na esteira da chamada “Primavera Árabe”.

Rapidamente, Assad optou pela repressão sangrenta, apresentando seus opositores como “jihadistas”, e a revolta como um complô de Estados Unidos e Israel contra “o eixo da resistência”, o qual diz representar.

Para os analistas, a convicção na vitória é chave.

“Os conselheiros de Assad repetem desde o início que confiam no sucesso, enquanto os americanos não bombardeiam Damasco pelo ar, nem se envolvem diretamente na guerra”, destacou Joshua Landis, diretor do Centro de Estudos de Oriente Médio na Universidade de Oklahoma.

Mesmo no pior momento, quando seu Exército foi expulso em março de 2015 da província de Idlib por uma coalizão de extremistas e rebeldes, seus “conselheiros sempre apresentaram as derrotas como parciais, e mantiveram sua confiança na vitória final”, explicou.

Além disso, Assad – assim como seu pai – é paciente e sabe esperar seu momento.

E sobre a afirmação do secretário de Estado americano Rex Tullerson de que o clã Assad está prestes a cair, o presidente sírio nega que sua família domine o país. “Está sonhando, alucinando”, declarou em tom irônico.

Sólida aliança com Moscou

“É da mesma escola que seu pai e sempre soube controlar o fator tempo e fazer mudar os ventos contrários a seu favor”, comentou Wadah Abed Rabo, editor-chefe do jornal Al Watan, alinhado com o governo.

A chave de sua vitória é, porém, a solidez de suas alianças, ao contrário das de seus adversários.

“Nunca duvidou da vitória, já que seu pai forjou, há décadas, uma aliança sólida e estratégica com Rússia, Irã e outros”, completou.

As relações com Moscou têm mais de 40 anos e datam da época da URSS, enquanto os vínculos com Teerã são do início dos anos 1980, por ocasião da guerra Irã-Iraque.

A fraqueza dos inimigos

Já a oposição perdeu seus apoios progressivamente.

“A fraqueza dos inimigos de Assad provém, em grande parte, do apoio insuficiente dos ‘amigos’ da oposição”, afirma Van Dam.

Os “Amigos do Povo Sírio” se constituíram em fevereiro de 2012 como apoio à oposição, quando esta navegava de vento em popa. Onze países árabes e ocidentais reconheceram a Coalizão da oposição como o único representante legítimo dos sírios. Na época, Assad estava isolado, e seu país, castigado pelas sanções internacionais.

Quatro anos depois e após uma série de vitórias, Assad continua no cargo e continuará reinando como um autocrata, segundo os especialistas.

“Dirigirá o país como no passado, conjugando intimidação e clientelismo. Vimos que Assad não é capaz de mudar a natureza fundamental do regime”, afirma Landis.

“Permanecerá no poder sem compartilhá-lo e fará algumas reformas cosméticas. Mas a posição de Assad não pode se garantir para sempre”, prevê Van Dam.

Para Belhadj, Assad “salvou sua posição na guerra, mas tem poucas possibilidades de salvá-la na paz, porque não tem legitimidade política suficiente para garanti-la”.