Um passo de cada vez. Como numa maratona, em que vale mais a constância do que a velocidade, a Asics avança no Brasil. Líder mundial no segmento de tênis de alta performance para corrida, a empresa japonesa viu sua participação no mercado global estagnar na casa dos US$ 4 bilhões, bem atrás das gigantes Nike (US$ 34 bilhões) e Adidas (US$ 24 bi) – segundo dados de 2017. Além disso, uma das iniciativas da companhia para ganhar maior visibilidade acabou frustrada com o adiamento das Olimpíadas de Tóquio, para o ano que vem, devido à pandemia do coronavírus. A marca investiu US$ 125 milhões para se tornar uma das patrocinadoras da competição. A boa notícia, ao menos até pouco antes da quarentena, foi o registro do melhor ano de vendas na América Latina, em 2019, região comandada desde o dia 1º deste mês pelo brasileiro Alexandre Fiorati. “Nossa intenção é investir cada vez mais no Brasil e na América Latina”, afirma o novo presidente, em entrevista à DINHEIRO.

Ex-vice-presidente financeiro da Asics no Brasil, o economista tem quase 30 anos de experiência em ambientes de negócios e demonstra otimismo com o desempenho da empresa no mercado latino-americano. “Em 2019, nosso resultado de vendas líquidas foi praticamente igual ao de 2018, mas tivemos um aumento no lucro operacional. Além disso, apresentamos crescimento de dois dígitos nos negócios no e-commerce.” A companhia tem por norma não divulgar números, porém afirma que a América Latina teve o seu melhor desempenho em dez anos, com o Brasil à frente.

O crescimento do comércio on-line é visto como natural pela Asics, principalmente em época de coronavírus. Fiorati diz que a pandemia acelerou a transformação digital nas empresas e, consequentemente, deve agilizar a implementação da omnicanalidade (integração de todos os canais) no varejo. Apesar de a Covid-19 ter impactado fortemente o varejo, o executivo se mostra confiante na recuperação da economia e garante a manutenção dos investimentos. Para julho, a Asics planeja o lançamento do Metaracer, primeiro tênis de corrida com placa de carbono – a linha de alta perfomance possui ainda os carros-chefes Gel-Nimbus, Gel-Cumulus e Gel-Kayano. A empresa também tem como foco global modelos para a prática de vôlei e de tênis, além de uma linha casual, a Sportstyle, que os atletas utilizam no dia a dia.

O adiamento das Olimpíadas 2020 não alterou os planos da empresa, a única do segmento esportivo a patrocinar a competição em Tóquio, no Japão. O executivo lembra que o país asiático sempre teve o esporte como aliado para uma melhor qualidade de vida. “Mesmo com o adiamento, estamos nos preparando para tornar esse momento ainda mais especial. Será mais um grande capítulo da história da Asics no esporte”, diz Fiorati. Inspirada no lema da marca (Mente sã em corpo são), a companhia tem promovido iniciativas para ajudar as pessoas a enfrentar melhor a pandemia. Todas as terças e quintas, no Instagram da Asics, são realizadas lives com exercícios físicos e conversas sobre questões ligadas à saúde física e mental. “Essa fase difícil vai passar e sairemos com muitas reflexões para pensar na sociedade que queremos construir”, declara o executivo.

CRESCIMENTO Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value, empresa especializada em marketing esportivo, acredita que a Asics pode ampliar as vendas na América Latina ao manter a aposta no e-commerce. Especializado em gestão esportiva, ele analisa que as vendas on-line reduzem a distância entre o consumidor e a marca. E lembra que os praticantes de corridas, maratonas e até caminhadas compram três, quatro pares por ano, o que traz retorno alto à Asics, líder do segmento. “Quando passar a crise, o e-commerce vai continuar em destaque. Aquelas pessoas que tinham receio de comprar tênis on-line tendem a aumentar essa procura.” Somoggi critica o investimento da Asics em tênis para vôlei, por atingir perfil muito limitado da população brasileira. Para ele, a empresa tem de investir principalmente em lifestyle, para atrair os consumidores que não são praticantes de esportes. “Mais de 50% da nossa população é sedentária. A Asics não atende a esse público, espaço que acaba ocupado por outras marcas. Esse é o desafio.”

PASSO A PASSO
Fundação: 1949
Sede: Kobe (Japão)
Presidente global: Yasuhito Hirota
Faturamento global 2018 – US$ 3,6 bilhões (números de 2019 não foram divulgados)
Operações América Latina: Brasil, Chile, Argentina, Peru e Colômbia
Presidente América Latina: Alexandre Fiorati
Início das operações no Brasil: 2007
Funcionários diretos no País: 300
Lojas próprias: 15, além de seis full price e nove outlets