Quando se pensa que a capacidade do presidente americano em provocar estragos está perto do fim, eis que ele apronta mais uma. Ninguém, nem mesmo seus conterrâneos, aliados, parceiros europeus ou mesmo no círculo mais íntimo dos auxiliares, engoliu a ideia estapafúrdia de sobretaxar as importações de aço e alumínio, restringindo dessa maneira brutalmente o comércio global do setor, contra as práticas comuns da OMC e numa escalada protecionista sem precedentes nos EUA. Na prática, Donald Trump, que já havia construído enormes inimizades no campo político abriu margem a uma guerra comercial que pode causar fortes estragos inclusive para a economia americana.

Tanto que as próprias empresas de lá iniciaram um movimento para tentar fazer Trump voltar atrás. Reclamam que a elevação de custos de vários níveis da cadeia produtiva local, decorrente dessa medida, poderá desempregar quase 200 mil americanos de uma vez. Mais grave: o impacto das novas barreiras trará efeitos colaterais inclusive nas negociações de outras mercadorias exportáveis dos EUA para o mundo. Será, em outras palavras, um “strike” completo no tabuleiro dos negócios internacionais. Manifestações no mesmo sentido vieram do Canadá, da Alemanha, da Comissão Europeia e da Organização Mundial do Comércio. E nem mesmo assim Trump capitulou.

Seguiu adiante e confirmou as tarifas, com algumas ressalvas que podem ser adotadas para alguns países como o México e Canadá. É de uma estupidez tremenda, com bases em impulsos meramente autocráticos, um chefe do mundo-livre partir para o fechamento parcial de fronteiras, contrariando a globalização em curso especialmente no campo da produção. Trump flerta com a própria ruína seguindo por esse caminho. Contraria os princípios elementares da livre concorrência e competitividade. No Brasil estima-se que o impacto negativo da medida deve gerar prejuízos financeiros da ordem de R$ 2 bilhões. Ações das siderúrgicas nacionais caíram de forma vertiginosa mas tendem a recuperar diante do fato, inevitável, de organismos multilaterais adotarem em breve sanções severas contra a decisão do presidente.

A União Europeia, por exemplo, ameaça retaliar com um imposto de 25% um conjunto de itens importados dos EUA que hoje geram para o mercado americano receitas da ordem de US$ 3,5 bilhões. Vingará assim a lei do olho por olho. Entre os republicanos partidários de Trump, a impressão quase unânime é que dessa vez ele passou da conta. O presidente da Câmara, Paul Ryan, chegou a falar no Congresso que a guerra comercial não será boa para ninguém. Resta a dúvida: seguirá Trump adiante com tantos pareceres contra? Até quando seus rompantes e tolices irão castigar o planeta? A julgar pelo desatino que acomete quase todas as suas decisões, o pesadelo ainda está no início.

(Nota publicada na Edição 1060 da Revista Dinheiro)