As “tempestades de citocina”, uma reação hiperinflamatória, parecem ter um papel-chave nos casos graves de COVID-19 e por enquanto deixam os médicos relativamente desamparados.

Febre, fadiga e tosse seca são os sintomas “benignos ou moderados” observados em quatro de cada cinco casos do novo coronavírus SARS-CoV-2. Mas às vezes soma-se um incômodo respiratório que pode resultar em síndrome respiratória aguda grave.

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É o caso de uma em cinco ou seis pessoas que precisam de hospitalização para sobreviver, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Dificuldades para respirar, sensação de ter os pulmões esmagados e lábios ou face que começam a ficar azulados são sinais de alerta que devem levar a uma consulta urgente, segundo o Centro para a Controle e a Prevenção de Doenças (CDC), organismo sanitário americano.

– O agravamento do sétimo dia –

A maioria dos doentes hospitalizados apresenta pneumonia severa de alcance bilateral, que é a forma mais grave da doença, segundo a OMS.

Frequentemente ocorre um agravamento brutal sete dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas, segundo o professor Yazdan Yazdanpanah, chefe do serviço de doenças infecciosas do hospital Bichat, de Paris.

Este prazo é variável, mas costuma resultar em uma Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda (SDRA). Esta situação na qual os pulmões não proporcionam oxigênio suficiente aos órgãos vitais requer ventilação mecânica com o uso de um respirador.

– “Choque citocínico” –

“Acumulam-se as provas que sugerem que uma parte dos pacientes que sofrem formas severas da COVID-19 são vítimas de uma síndrome de choque citocínico”, escreve, com colegas britânicos, Jessica Manson, especialista em fenômenos inflamatórios do University College Hospital de Londres, na revista médica The Lancet.

Este fenômeno de “tempestade hiperinflamatória” foi detectado e descrito há apenas duas décadas. Foi apontado para explicar o risco das outras duas doenças respiratórias provocadas pelo novo coronavírus, a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave, que deixou 774 na Ásia em 2002-03) e a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, 866 óbitos desde 2012).

Suspeita-se também que tenha estado presente nas grandes pandemias gripais, como a terrível “gripe espanhola”, que matou 50 milhões de pessoas em 1918-19.

– “Resposta imunológica exuberante” –

As citocinas são substâncias naturalmente produzidas pelas células do sistema imunológico para regular a ação imunológica, em particular para favorecer a reação inflamatória, que é uma resposta naturam da defesa de um organismo acometido por uma agressão.

Mas, no caso da “tempestade citocínica”, observa-se uma aceleração deste processo, que desemboca em uma reação hiperinflamatória que pode ser letal.

Qual é a importância destas tempestades na engrenagem dos casos severos da COVID-19? “É uma excelente pergunta”, responde o especialista americano em microbiologia e imunologia Stanley Perlman, que estudou estes fenômenos nos casos de Sars e MERS.

“Penso que a resposta imunológica exuberante é o que verdadeiramente mata os pacientes (de COVID-19), destruindo os tecidos. Mas não é uma certeza”, responde à AFP este especialista da Universidade de Iowa.

– Como acalmar a tempestade? –

Seria necessário acalmar a tempestade nos pulmões sem, ao mesmo tempo, baixar as barreiras imunológicas dos doentes. Por enquanto, a medicina faz tentativa e erro em meio à urgência da pandemia.

Em Paris, por exemplo, o grupo hospitalar público AP-HP lançou nestes últimos dias o teste CORIMMUNO para provar vários medicamentos contra reações imunológicas inflamatórias excessivas.

Neste fenômeno não existe “nenhum” enfoque terapêutico eficaz e comprovado contra este fenômeno, lamenta o professor Perlman. Este especialista destaca que administrar corticoides, medicamentos antiinflamatórios habituais, seria “com certeza nocivo” para os doentes de COVID-19.