Os atos ocorridos em Brasília neste domingo (8) foram realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A omissão de autoridades públicas também ligadas ao antigo mandatário do país colaboraram para o ocorrido em Brasília, conforme apontam as determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) que resultaram na ordem de prisão do agora ex-Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres e o afastamento do governador Ibaneis Rocha.

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Mas o ex-presidente se mantém fiel a tática de manter a atenção de seus seguidores com discursos dúbios que também lhe permitem escapar, ao menos por enquanto, de qualquer acusação de incentivar atos golpistas.

“O melhor esta por vir”

Em um vídeo que circula nas redes sociais, antes da invasão da praça dos Três Poderes, Bolsonaro aparece com um grupo de apoiadores em Orlando, nos Estados Unidos. Ao ouvir o pedido de uma mulher para “não desistir de nós”, o ex-presidente respondeu: “O melhor esta por vir!”. A frase foi confirmada por outra apoiadora, também em outro vídeo publicado na internet. Confira:

https://twitter.com/jovianoa/status/1610088546232147968

Discursos ambíguos

Além de disseminar informações falsas, como as feitas sobre o processo eleitoral, a segurança das urnas eletrônicas ou também sobre a pandemia da Covid-19, Bolsonaro realiza discursos ambíguos, que acabam incentivando seus apoiadores, mas que ainda lhe permitam se isentar de qualquer culpa sobre os atos que ocorrem em sequência.

Ao se pronunciar sobre as manifestações que fecharam as estradas após o segundo turno das eleições presidenciais, Bolsonaro disse que eram “fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral” e se restringiu a dizer que os bloqueios eram “método de esquerda”.

A tática se repetiu neste domingo ao falar sobre os fatos ocorridos no Distrito Federal, sem criticar os ataques. “Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”, disse.

E como já havia feito após as eleições voltou a falar que respeitou a Constituição e a liberdade. “Ao longo do meu mandato, sempre estive dentro das quatro linhas da Constituição respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade”, publicou no Twitter.

Internação hospitalar

Na segunda-feira (9), dia seguinte dos ataques à Brasília, Bolsonaro foi internado em um hospital de Orlando com fortes “dores abdominais” e teve alta no dia seguinte.

As internações do ex-presidente foram comuns durante os quatro anos em que ele esteve a frente do comando do país e, coincidentemente, ocorreram em momentos em que sua gestão era alvo de críticas ou polêmicas, também bastante comuns.

  • Setembro de 2019, quando ocorria o atrito com o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, pela interferência do comando da Polícia Federal. Bolsonaro passou por uma cirurgia de correção de uma hérnia incisional;
  • Setembro de 2020, o ex-presidente passou por uma cirurgia de retirada de cálculo na bexiga semanas após serem divulgados uma série de depósitos para Michele Bolsonaro, feitos por Fabrício Queiroz e sua esposa Márcia Aguiar;
  • Julho de 2021 houve nova internação, dessa vez devido a uma obstrução intestinal. Na época a CPI da Covid era prorrogada por mais 90 dias;
  • Durante as enchentes na Bahia, em janeiro de 2022, Bolsonaro estava de férias em Santa Catarina. Criticado por não acompanhar de perto o sofrimento do povo baiano, Bolsonaro foi novamente internado por obstrução no intestino, desta vez por um “camarão não mastigado”, como disse seu médico na época;
  • A última internação de Bolsonaro enquanto presidente, por desconforto abdominal, ocorreu quando surgiram denúncias de corrupção do Ministério da Educação e levaram a exoneração de Milton Ribeiro, que comandava a pasta.