“Temos de focar no essencial e parar com esse ‘mimimi’ disperso, com coisas irrelevantes lá na empresa!” Com essa colocação, feita em tom veemente, o CEO de um negócio familiar, cujo faturamento beira a casa de R$ 1 bilhão, me revelou uma situação recorrente e bem delicada da empresa em sua visão.

Ele estava empenhado em me contratar para assessorar a diretoria da empresa, cerca de 15 pessoas entre acionistas e principais gerentes, na reunião de fim de ano que se aproximava.

Após ouvi-lo atentamente, sugeri uma conversa individual minha com três ou quatro pessoas, além do seu pai e da sua irmã, para ter um quadro mais completo da situação.

O que aprendemos sobre liderança com o Magalu

Após essa rodada inicial de conversas, propus organizar a agenda da reunião da diretoria em torno de sete questões essenciais que necessitam de um alinhamento bem mais profundo que o existente entre acionistas e dirigentes:

  1. Qual o propósito do negócio e qual o posicionamento desejado pela empresa no mercado?
  2. Quais clientes queremos servir?
  3. Quais os resultados quantitativos e qualitativos desejados?
  4. Quais as competências negociais que precisamos adquirir para ter maior sucesso no futuro?
  5. Qual a estrutura e equipe que vai se comprometer a entregar os resultados desejados?
  6. Quais as atitudes que queremos ver praticadas? E quais são inaceitáveis?
  7. Quais as prioridades imediatas para construirmos um novo patamar para 2025?

Tenho utilizado este framework em diversos trabalhos de Reflexão Estratégica que conduzo com várias empresas de diferentes portes e em diferentes tipos de negócios — industrial, agro, varejo, serviços, tecnologia, logística e saúde, entre outros.

Comecei a formular esse roteiro há cerca de 20 anos, quando entrei como sócio do Monitor Group, consultoria fundada por Michael Porter. Tentava tropicalizar e simplificar ideias e instrumentos, pois, para trabalhar assuntos complexos como a estratégia de uma empresa, não precisamos de ferramentas muito complicadas. Meu lema tem sido “Estratégia pura e simples”. Em tempo: simples, mas não simplória.

Essas questões parecem óbvias, mas têm revelado grandes surpresas. O grau de alinhamento entre os dirigentes nem sempre é razoável e, às vezes, temos a impressão que existem várias “empresas” dentro de uma só, derivada da disparidade de percepções sobre o negócio e a maneira como deve ser conduzido. A consequência das visões divergentes engloba dispersão, bem como desperdício de tempo, energia e recursos financeiros. Além disso, muitas vezes gera conflitos entre sócios e dirigentes.

Comparo essa breve parada para a necessária “Reflexão Estratégica” ao “pit stop” que ocorre em uma corrida de Fórmula 1: a corrida não para, mas piloto e carro precisam de uma breve pausa para ajustes, a fim de aumentar as chances de continuar na competição.

Além do questionamento e reflexão sobre essas sete questões essenciais que podem redirecionar a estratégia, um grande benefício desse fluxo é o compartilhamento dos caminhos alinhados e, consequentemente, maior engajamento e comprometimento com os rumos da empresa.

No ambiente do mundo corporativo em que vivemos, pleno de incertezas sobre o futuro, as empresas precisam alinhar suas respostas de forma contínua, a pelo menos essas sete questões essenciais. Só assim poderão garantir o seu amanhã!

  • César Souza é presidente da Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de diversos best sellers e do novo livro “O Jeito de Ser Magalu” (Rocco,2021)