Quando as portas se abriram para que os jurados da nona edição da Grande Prova Vinhos do Brasil tomassem seus assentos no salão do hotel Vila Galé, no Rio de Janeiro, na segunda-feira (26), uma operação de guerra já havia sido montada dos bastidores. Com um recorde de amostras inscritas, os avaliadores teriam pela frente o desafio de provar e pontuar nada menos que 814 vinhos, 428 espumantes e 67 sucos de uva, distribuídos em 51 categorias — de bag in box (vinhos acondicionados em caixas) até espumantes sur lie, no qual o mosto permanece em contato com as borras das uvas durante a fermentação em garrafa. Uma variedade de estilos inédita em todo o mundo para uma mesma avaliação. “A prova vem num crescimento constante ano após ano, e a alta do consumo de vinho durante a pandemia gerou maior interesse por parte dos produtores no sentido de confirmar a qualidade do que elaboram”, afirmou o empresário Sérgio Queiroz, do Grupo Baco Multimídia, um dos organizadores do evento, ao lado do especialista em vinhos Marcelo Copello. ”A maior diversidade de regiões produtoras no País é outro fator de estímulo à participação na prova“. Este ano, 144 produtores que enviaram amostras originárias de nove estados brasileiros: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. “Essas novas fronteiras chegam para consolidar a cultura do vinho no Brasil. Há muita coisa boa chegando de lugares onde até bem pouco tempo não havia parreiras, como a Chapada Diamantina ou Garanhuns”, disse Queiroz.

GRANDE PROVA Com 1.309 amostras enviadas por produtores de nove estados brasileiros, a nona edição do evento confirma
a diversidade de regiões produtoras e a crescente qualidade do vinho nacional. (Crédito:Divulgação)

Se serve para medir o pulso da crescente expansão do vinho nacional, também tem o mérito de ajudar o consumidor a fazer melhores escolhas. Isso porque as provas são feitas às cegas e as pontuações resultam da média atribuída por painéis de avaliadores. Para Queiroz, “é um trabalho muito mais justo do que uma nota dada por um único crítico”. Essa é também a metodologia do Brazil Wine Challenge, organizado pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), e que este ano ocorreu entre os dias 13 e 15 de outubro em Bento Gonçalves (RS), a Capital Brasileira do Vinho. Único do gênero no País com as chancelas da Organização Internacional da Vinha e do Vinho e da União Internacional de Enólogos, o concurso recebeu este ano 774 amostras, 27% a mais que no ano passado. Elas chegaram de 16 países e foram avaliadas por 57 especialistas, que atribuíram um total de 21 Medalhas Gran Ouro (acima de 93 pontos) e 216 Medalhas de Ouro (entre 89 e 92 pontos). O Brasil, com quase 70% das amostras inscritas, liderou o número de Medalhas Gran Ouro com 11 conquistas — sete espumantes, três vinhos finos e um licoroso —, seguido por Chile, com quatro, e Portugal, com três. Para o presidente da ABE, Daniel Salvador, ainda que os produtores premiados devam celebrar suas conquistas, “quem ganha é o consumidor, que a cada safra tem o privilégio de poder degustar vinhos e espumantes excelentes, de diferentes procedências”, afirmou. “São essas opiniões que mais importam, as opiniões de quem tem chancela, tem autoridade.”

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“Quem ganha é o consumidor, que a cada safra tem o privilégio de poder degustar vinhos e espumantes excelentes, de diferentes procedências”
Daniel Salvador, presidente da Associação Brasileira de Enologia.

SAFRA DAS SAFRAS A boa performance do Brasil no concurso reflete um processo contínuo de avanços na produção que incluem desde cuidados no manejo dos vinhedos até as melhores práticas de vinificação. Pesa também o fato de o vinho brasileiro ter sido beneficiado por duas safras em que as condições climáticas atingiram patamares superiores: as de 2018 e 2020 —considerada a “safra das safras” pelos especialistas. E é com a expectativa de confirmar as virtudes da vindima de 2020 que a ABE iniciou a entrega, na segunda-feira (26), das 16 amostras mais representativas do ano para cerca de 700 pessoas que adquiriram os kits da Avaliação Nacional de Vinhos. Esse tradicional evento, que ao longo de 27 anos se tornou a maior degustação mundial de vinhos de uma mesma safra, desta vez ocorre em formato virtual, com transmissão ao vivo pelo Facebook, Instagram e Youtube, a partir das 17h do dia 7 de novembro. Diferentemente do Brazil Wine Challenge e da Grande Prova Vinhos do Brasil, a Avaliação Nacional de Vinhos se limita a 16 amostras. Elas foram escolhidas por 64 enólogos a partir de 395 vinhos inscritos por 56 vinícolas. Confirmando o interesse crescente dos brasileiros por conhecer vinhos, os 700 kits foram adquiridos em apenas duas horas no site da ABE.

AVALIAÇÃO NACIONAL Os 700 kits com as 16 amostras da safra 2020, que pela primeira vez em 28 anos será degustada virtualmente, foram vendidos em apenas duas horas. (Crédito:Divulgação)

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