A alta dos juros no segundo semestre do ano passado provocou fortes quedas na bolsa. Esse movimento não poupou nem um grupo de empresas que costuma ser menos afetado pelos solavancos, as chamadas “ações de viúva”. São papéis de empresas maduras, que geram resultados estáveis, têm pouca necessidade de reinvestir para crescer e, por isso, podem pagar dividendos generosos a seus acionistas.

Apesar de serem mais estáveis, essas ações também sofreram. O Índice de Dividendos amargou uma queda de 10% entre maio do ano passado e meados de janeiro, período em que a taxa Selic subiu de 2,75% para 9,25% ao ano. A queda criou oportunidades. Além de as ações de viúva tradicionais estarem sendo negociadas a bom preço, outras empresas que tiveram resultados muito bons nos últimos anos podem remunerar generosamente os investidores. “Quase todos os ativos brasileiros estão sendo negociados com desconto”, disse o diretor de investimentos da plataforma de gestão de carteiras Dividendos.Me, Guilherme Gentile. “Isso faz com que empresas do setor elétrico e bancos, que são tradicionalmente bons pagadores de dividendos, fiquem ainda mais interessantes.”

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“A queda de preços fez com que empresas do setor elétrico e bancos, que são tradicionalmente bons pagadores de dividendos, fiquem ainda mais interessantes” Guilherme Gentile, diretor de investimentos do Dividendos.Me

Gentile afirmou que empresas como o Banco do Brasil são boas pedidas. “Alguns investidores olham para essa empresa com restrições por ser um banco estatal, mas ele é bem gerido, nunca apresentou um prejuízo em dez anos e suas ações são menos voláteis do que o Ibovespa”, disse. Em uma pesquisa realizada pela Dividendos.Me com 130 mil investidores, os papéis do BB aparecem em segundo lugar na preferência dos investidores, perdendo apenas para as ações preferenciais da Itaúsa, empresa que controla o Itaú Unibanco, Dexco e outras. Em seguida, pela ordem, as preferidas são Petrobras PN, Bradesco PN e as units da transmissora de energia Taesa.

O peso dos bancos, que ocupam três das cinco posições de liderança, deve-se às fortes quedas de 2021. O setor financeiro foi um dos mais penalizados. Porém, quem investe pensando no longo prazo vê isso como uma oportunidade. “Os investidores geralmente buscam esse tipo de ações (dividendos) pela segurança e baixa volatilidade, pois são vistas como um porto seguro e uma forma de renda passiva de longo prazo”, disse Gentile.

BONS E MAUS DIVIDENDOS Várias empresas aproveitaram o desafio da pandemia em 2020 para melhorar sua eficiência e produtividade. Com isso a relativa normalização das atividades em 2021 gerou resultados acima da média, que justificam um aumento expressivo nos dividendos a ser pagos. Segundo o analista CNPI do grupo Guiainvest, Sergio Biz, isso pode iludir alguns investidores. “Um erro comum é olhar apenas o dividendo relativo ao último exercício e tomar sua decisão de investimento baseada apenas nesse número”, disse ele. “É necessário olhar para prazos mais longos.” Segundo Biz, esse é o caso de Petrobras e Vale. Tanto a petrolífera quando a mineradora apresentaram bons resultados no ano passado, o que deve alegrar a vida dos investidores. Mesmo assim, não é garantido que isso se repita nos próximos anos. “Eu não recomendaria essas ações para um investidor que quisesse montar uma posição de longo prazo, apenas para alguém que queira aproveitar os pagamentos referentes a esse exercício”, disse ele.

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“É errado tomar uma decisão de investimento analisando apenas o dividendo do último exercício” Sergio Biz, analista de dividendo da GuiaInvest.

Biz também afirmou que há uma diferença entre as pagadoras de dividendos. As melhores conseguem fazer esses pagamentos crescer. Uma empresa que paga, religiosamente, um dividendo de um real por ano há dez anos está pagando, na prática, menos de trinta centavos devido à inflação. “É preciso buscar companhias cujos dividendos acompanhem, pelo menos, a variação da inflação”, disse Biz. Dentre as poucas que conseguiram a proeza estão a locadora de veículos Localiza e a Weg, afirmou. Elas não pagam os maiores dividendos da paróquia, mas os proventos vêm crescendo consistentemente. “O problema é que há poucas empresas com esse perfil”, disse.