O arquiteto Marcelo Augusto Vaz e a advogada Ana Carolina Vaz, de São Paulo, resolveram arriscar em 2005 e trocaram seus empregos pelo sonho do negócio próprio. De olho no crescente mercado dos animais de estimação, ambos criaram a Dog’s Care, uma empresa dedicada à fabricação de fraldas descartáveis para cachorros. Para isso, eles recorreram a um amigo, que emprestou R$ 30 mil cobrando juros pouco amigáveis de 4% ao mês. 

 

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Marcelo e Ana Carolina: antes um empréstimo que custava 4% ao mês.

Hoje, a empresa paga juros civilizados de 1%

 

“Era nossa única opção”, conta Ana Carolina. Hoje, a empresa – que faturou R$ 1,4 milhão em 2009 e prevê uma receita de R$ 3 milhões para este ano – paga cerca de 1% ao mês nos empréstimos de R$ 130 mil obtidos na Caixa Econômica Federal. Se precisarem de mais dinheiro, eles conseguem taxas de 0,8% para comprar equipamentos de até R$ 500 mil. 

 

Empresas como a Dog’s Care são os novos clientes preferenciais dos grandes bancos. “A estabilidade da economia deixou as empresas menores mais confiantes em tomar dinheiro emprestado e os bancos mais dispostos a emprestar”, diz Octávio de Lazari Jr., diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco. 

 

Os números do banco comprovam isso. O balanço de junho de 2010 mostra que a carteira de empréstimos das empresas médias era de R$ 72 bilhões, um crescimento de 150% em dois anos. 

 

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Em um ano em que o crédito como um todo deverá crescer 12%, os empréstimos totais para as empresas de pequeno e médio porte devem avançar mais de 20% (observe o quadro ao lado). 

 

Não há números consolidados, uma vez que a definição de pequena e média empresa muda de banco para banco, mas as estimativas informais do mercado mostram que esses empréstimos já superaram R$ 300 bilhões, um recorde histórico para o setor. 

 

A mudança vai além dos números. “Os empréstimos cresceram de maneira quantitativa e qualitativa”, diz Sandra Boteguim, diretora de produtos para pessoa jurídica do Itaú Unibanco. Há mais tomadores e quem já usava crédito tem sofisticado suas operações. 

 

“Os clientes agora vão além do desconto de duplicatas e das linhas automáticas como conta garantida e capital de giro”, diz ela. Eles agora estão mais dispostos a financiar a compra de máquinas e equipamentos e até se arriscam a tentar uma ou outra operação de crédito lastreada por contratos de comércio exterior, algo impensável há dois anos. 

 

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Sandra Boteguim, do Itaú Unibanco: ”O cliente está mais bem preparado,

o que nos permite oferecer produtos melhores”

 

Pelas contas do Itaú Unibanco, do 1,8 milhão de empresas na base de clientes, cerca de 250 mil tomavam empréstimos em outubro de 2009. Em junho de 2010, esse total havia subido para 281 mil. “A estabilidade da economia tem estimulado esses negócios.”

 

A demanda também tem mudado a estratégia dos bancos, que agora reforçam as equipes de gerentes para atender essa nova onda de clientes. “A participação das pequenas e médias empresas na carteira de crédito chegou a 34% e esse percentual cresce a cada ano”, diz Clenio Severio Teribele, diretor de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil. O mesmo ocorre no Santander e no HSBC. 

 

“Temos 370 mil empresas na carteira de clientes e nossa meta é aumentar essa base em 50% até 2012”, diz Marcelo Aleixo, diretor do HSBC Empresas. O crescimento da demanda por empréstimos também decorre de mudanças no mercado. As grandes corporações passaram a se financiar no mercado de capitais, diminuindo a demanda total por crédito. 

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Esse fenômeno obrigou os bancos a caprichar na lição de casa, pois há mais uma mudança em curso no setor. Nenhum dos executivos comenta abertamente a questão, mas até há pouco tempo, emprestar para empresas de pequeno e médio porte requeria uma boa dose de intuição e era bastante arriscado. “Nas companhias menores, muitos números não estão no balanço e a concessão de crédito requer sensibilidade”, diz um diretor de grande banco. 

 

Os juros, claro, refletiam esse risco maior. Hoje, a estabilização da economia e os controles fiscais mais rígidos facilitam não só a tributação, mas também a obtenção de crédito. Os números das empresas estão mais confiáveis e os bancos se sentem mais confortáveis em emprestar. 

 

“O gerente que sai para fazer negócio encontra um empresário mais bem preparado, que tem mais informação”, diz Sandra, do Itaú Unibanco. “O mercado está mais profissional, o que permite oferecer produtos melhores, algo inédito no setor.”